segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

domingo, 11 de novembro de 2007

1ª Semana Maranhense de Liturgia

Convidamos todos a participar da 1ª Semana Maranhense de Liturgia, que se realizará de 4 a 8 de dezembro de 2007 na cidade de São Luís do Maranhão e contará com a participação do Pe. Luís Eduardo Baronto e da Ir. Laíde Sonda, que abordarão os temas Liturgia e Espaço Litúrgico.
Participe!

Data e horários:
de 4 a 8 de dezembro de 2007 das 8 às 21hs

Local:
Casa de Encontros - Oásis (São Luís - MA)

Valor:
R$ 150,00 (incluindo hospedagem e refeições)

Local de inscrição:
Arquidiocese de São Luís: Praça Pedro II, Centro, São Luís - MA
Igreja do Carmo: Praça João Lisboa 360, Centro, São Luís - MA
Casa de Encontros - Oásis
(Para pessoas de outras cidades as incrições poderão ser feitas no dia do encontro, entretanto é importante reservar sua vaga por telefone ou enviando seus dados por e-mail)

Maiores informações:
fone: 98-3245-6779 (Casa de Encontros - Oásis)
e-mail: rlimaarq@gmail.com

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A ARTE SACRA E A PARTICIPAÇÃO NO PERFEITO (cont...)


(última parte)

A LITURGIA E A VOLTA AO ORIGINÁRIO
A renovação litúrgica se orienta decididamente para o essencial, e desta tensa atenção ao nuclear deriva-se o movimento da arte sacra contemporânea. O urgente é precisar onde radica o nuclear-essencial, tarefa muito menos fácil do que poderia parecer num primeiro momento. Um dos principais mentores do movimento litúrgico, Romano Guardini, se esforçou sempre em deixar claro, contra as incompreensões e extremismos que acompanharam este movimento, que a piedade litúrgica, longe de se opor à piedade chamada popular, deve alimentar-se dela. Desta convicção parte sua Via crucis e seu livro sobre o Rosário de Nossa Senhora. Mais tarde, liturgistas de menor capacidade filosófica e com horizonte humanista mais pobre do que o de Guardini mostraram certa aversão ao sentimento e à sensibilidade populares. Sob pretexto de purificação e elevação da piedade, algumas fontes de devoção indispensáveis para dar à atividade litúrgica sua plenitude de sentido, que é a entrega pessoal - não individualista, mas tampouco coletivista, mas rigorosamente comunitária - ao Senhor de todas as coisas, se exauriram.

Para entender plenamente a arte sacra atual e conduzi-la por caminhos fecundos é conveniente ver suas características, antes resenhadas, como aspectos diferentes da busca do profundo. Assim, a moderação nos meios expressivos deve servir para uma melhor e mais profunda compreensão do essencial. A autenticidade no tratamento dos materiais é pressuposto para a penetração no poder expressivo peculiar dos mesmos. A revalorização da sensibilidade e da imagem é determinada por essa atenção a vertentes metassensíveis da realidade, tal como resplandecem nos símbolos, no rosto das realidades carregadas de sentido. Não esqueçamos que a grande tarefa do movimento litúrgico, junto com o movimento de juventude, foi voltar ao originário, às fontes naturais de expressão - a água, o fogo, os metais, a luz... Daí sua busca do irredutível, daquilo que ostenta um rosto, uma face inalterável, não redutível a elementos amorfos não qualificados.


O MISTÉRIO SE DEFINE POR SUA RIQUEZA INESGOTÁVEL
Esta volta ao natural-originário constitui a melhor preparação para renovar o sentido do mistério, que não é primordialmente algo oculto, mas algo extremamente profundo e valioso que se revela claramente, mas se revela como o que é, como uma realidade inesgotável e inacessível a toda forma de conhecimento que implique domínio. Para uma tradição racionalista, com obsessão por obter clarezas racionais exaustivas, o mistério se definiu por sua opacidade à compreensão sem limite. Hoje em dia tende-se, de preferência, a contemplar o mistério a partir da perspectiva da riqueza, do que tem de fecundante para quem entra em sua área de influência.O aprofundamento no mistério do Deus que se revela na face visível de Cristo é a estrada real que se abre ao artista que quer níveis dignos da arte verdadeiramente sacra. Assim como na vida religiosa a iniciativa compete a Deus, no processo artístico é o profundo valioso que pronuncia a primeira e a última palavras. Que estas palavras se tomem perfeitamente audíveis é trabalho da técnica atual de nudificação. Mas esta, sem a intuição inicial das realidades nucleares da fé e da vivência religiosa, se reduziria a um mero exercício de destreza técnica carente de profundidade artística.


3. A ARTE E A FUNDAÇÃO DE ÂMBITOS DE PRESENÇA

A censura que às vezes é feita á arquitetura sacra atual de corresponder a uma forma de inspiração protestante pode ser justificada se o afã de pureza significa apego ao meramente in-objetivo, e aversão total a todo o figurativo. Em suas diversas manifestações espirituais - filosofia, teologia, liturgia - os protestantes costumam mostrar certa propensão ao inobjetivo. Daí seu cultivo, eminentemente germânico, desse difuso clima acolhedor chamado "Stimmung". Os católicos se caracterizam mais por estarem sujeitos ao rigorosamente pessoal, em seu sentido mais rigoroso. A tendência a diluir o meta-objetivo em algo meramente in-objetivo é extremamente grave, porque deixa o homem numa espécie de terra de ninguém, a meio caminho entre a objetividade desprezada - mundo confiado e pegável - e a super-objetividade entrevista na forma precária da inobjetividade.

Naturalmente, frente ao fixismo do objetivismo coisista, a valorização do inobjetivo dá uma forte impressão de mobilidade e flexibilidade rejuvenescedora. Mas por trás desta impressão gozosa se experimenta uma sensação angustiante de não dar pé. Este desconcerto nos insta a notar que, se a religião é a forma mais alta de relação pessoal do homem com o Deus da revelação, o modo mais direto e eficaz de abordar a complexa problemática da arte sacra é propor seriamente o problema da presença.Em sua documentada obra sobre A arte sacra atual, Juan Plazaola sublinha que
"para uma arte rigorosarnente sacra não basta certa fascinação nem o sentimento de um valor universal; é necessário que ao mesmo tempo em que fascina, estremeça até as fibras mais intimas de nosso ser. Deve sugerir a presença desse duende misterioso que espreita todas as janelas e as duas portas - de entrada e de saída - de nossa existência".
Aqui o sagrado é colocado em relação de proximidade com a presença do "numinoso", do mistério "tremendo e fascinante". Isso nos faz lembrar com energia que as formas autênticas de presença só surgem entre seres pessoais. Que exigências implica o fenômeno da presença? Em qual nível entitativo ocorre e que qualidades humanas mobiliza? Só um estudo sério e profundo do conceito de "presença" nos dará a amplitude de perspectiva necessária para abordar com mão firme temas tão sutis, delicados e freqüentemente tergiversados como o do poder do sensível-figurativo para exprimir o metassensível, a capacidade do "vazio" de dar albergue à experiência do infinito, a vinculação do silêncio com a revelação do que transcende o mundo das coisas à mão. Trata-se, no fundo, dos problemas suscitados pelo melhor pensamento existencial.Convém não confundir a experiência religiosa autêntica com a entrega a um clima de efusividade sentimental, de diluição de limites. A religião cristã é pessoal de raiz. Enquanto não dispusermos de uma vigorosa teoria estrutural das categorias que decidem a compreensão da pessoa e sua forma de instaurar-se como tal, estaremos em constante perigo de confundir os diversos modos de sentimento que o ser humano experimenta, sobretudo o sentimento meramente vital efusivo e o sentimento espiritual que é emoção diante da presença de algo elevado que transcende o homem e, transcendendo-o, o plenifica.


4. QUALIDADES DO ARTISTA: DECISÃO E REVERÊNCIA

A arte sacra atual corresponde a uma renovação teológico-pastoral realizada em fecunda aliança com a melhor filosofia da época. Devemos nos aprofundar neste humus intelectual se quisermos ter critérios fecundos de ação que esclareçam a mente dos artistas na situação de encruzilhada em que nos encontramos hoje.O homem contemporâneo vive numa eufórica preocupação pelo refinado e autêntico. O estudo entre linhas do movimento cultural dos últimos anos leva a suspeitar que só um profundo estudo filosófico dos conceitos fundamentais que decidem o sentido do processo criador humano pode nos libertar do grave risco de entender o simples como elementar-pobre e a pobreza como desmantelamento.Não basta, pois, afirmar que estamos diante de uma mudança de sensibilidade, pois as mudanças espirituais não correspondem a uma espécie de fatalidade biológica, mas a motivos culturais muito complexos que o homem pode em certa medida dirigir e modular. Não é totalmente o estilo que faz o artista, nem vice-versa. Estamos perante um desses processos "circulares" que tomam tão misteriosa e fecunda a vida do espírito em seus níveis mais altos. Por respeito a este mistério devemos incrementar nossa consciência de responsabilidade na tarefa de criação cultural, que deve reunir estas duas qualidades, só na aparência opostas: decisão e reverência Decisão para criar, e reverência aos altos valores aos quais o artista verdadeiro serve definitivamente.O homem de integração, alheio por temperamento ao perigoso jogo de divisão analítica, está otimamente disposto, sem dúvida, para colaborar na grande tarefa atual de pôr ordem e sentido no processo de criação artística.

in: QUINTÁS, Alfonso López. "Estética", Petrópolis, Ed. Vozes, 1992 - pág 99 a 107.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

A ARTE SACRA E A PARTICIPAÇÃO NO PERFEITO (cont...)


(2 parte)

A BUSCA DA POESIA DO ESSENCIAL
O funcionalismo exerce uma ação purificadora benéfica não na medida em que substitui a poesia pelo cálculo, a idéia pela mera utilidade, mas enquanto prescinde do acidental-superficial para entrar asceticamente na razão última de ser das coisas que o homem faz. Esta intuição das razões últimas é a força impulsora da mais profunda e perdurável poesia.


Não é nada ilógico que a clarificação da função litúrgica ocorra paralelamente ao movimento arquitetônico em direção a uma adesão maior ao fundamental, ao que, por ser expressivo, exerce uma função de epifania do mistério. Os elementos arquitetônicos convertem-se assim em gestos, com toda a capacidade que estes possuem para fazer alusão a campos muito amplos de sentido com esforço muito leve.


Por não perceber que a função possui uma vertente estética, devido a sua vizinhança com o profundo - fonte de expressividade e, portanto, de beleza - o funcionalismo foi banalmente entendido como reprodução servil de esquemas concebidos com um sentido praticista, na esperança ilusória de que a mera exclusão dos conteúdos objetivos - temas, argumentos, etc. - e o serviço a uma meta arbitrariamente imposta pelo arquiteto garantiram uma qualidade artística sobressalente.Hoje em dia se impõe novamente a necessidade de dotar a arquitetura de um certo lirismo. Mas o que se entende aqui por lírico? É algo epifenomênico, justaposto, violentamente acrescentado por vontade sentimental, fantástica ou burguesa? Ou é, antes, a vertente estética de um processo rigorosamente genético de formas reais, robustas, carregadas de um sentido poderoso no mundo das realidades que constituem o tecido da vida humana?É decisivo para o homem de hoje compreender que a poesia - fenômeno universal - brota em seu ser pela tendência básica a se mover em níveis de fundura. Não se chega aos planos em que germina a autêntica poesia através da abstração, do abandono das realidades consideradas acessórias, mas através de intuição, de penetração através do expressivo no âmbito do essencial que se expressa nele vitalmente. Esta atividade intuitiva põe em vibração e compromete o ser inteiro do homem.


d) Economia de meios expressivos


Costuma se sublinhar hoje em dia o valor estético da pobreza e, em geral, da economia de meios. Na minha opinião, nos dará muita luz em vários aspectos esclarecer as profundas razões da correlação existente entre o efeito estético e a escassez de meios expressivos empregados.De per si, a pobreza não tem um poder expressivo superior ao da riqueza. Quando um artista consegue um máximo de expressividade com um mínimo de recursos expressivos, manifesta uma grande potência de transfiguração do sensível, que é privilégio dos seres criadores. À medida que ganham em experiência, os espíritos verdadeiramente criadores adquirem um poder especial para saturar os meios sensíveis de poder expressivo. Os meios expressivos se reduzem assim a uma lâmina quase imperceptível, asceticamente voltada para o serviço da encarnação expressiva. Para conseguir esta transfiguração dos materiais sensíveis se requer uma poderosa intuição que entre em contato muito direto com as realidades profundas que se auto-expressam em tais materiais. Pensemos nas últimas composições de Bach para órgão ou nos últimos quartetos de Beethoven.
"A pobreza é verdadeiramente transparente, rasga a opacidade de tanta presunção acumulada progressivamente, liberta as formas da espessura asfixiante e parasita da matéria morta, e sobre a forma nua faz descer o fulgor do mistério que brilha tanto mais quanto sua presença se aproxima de nós mais desembaraçada, mais indefesa" (cf. F. Pérez Gutiérrez, op. cit., p. 181).2.

A PRIMAZIA DO PROFUNDO
Se o artista vive no nível das realidades valiosas, dialoga com elas e possui capacidade suficiente para encarná-las em meios sensíveis, goza por isso mesmo de liberdade para ser sóbrio - que é um alto poder quando está aliado com um elevado grau de expressividade - reduzindo o aparato técnico expressivo a um mero ponto de apoio eficacíssimo do processo criador.

O arquiteto austríaco N. Heltschl diz que "com a pobreza ocorre o mesmo que com o nada, que causa náusea ao existencialista e embriaguez divina ao místico". Deparamo-nos com o grave problema de superar a vertente meramente objetivista do real para ter acesso aos estratos mais profundos do mesmo. Um esboço é humilde, mas, se responde a uma poderosa intuição, a pobreza dos meios expressivos é transcendida pelo poder transfigurador pretendido neles. Quando ocorre este dinamismo ascensional expressivo, a pobreza não degenera nunca em sordidez amorfa.Segue-se que não se deve fazer ostentação expressa nem de riqueza nem de pobreza, mas mostrar espontaneamente aquilo em cuja proximidade espiritual se vive. Conseguindo-se esta presencialidade com o profundo-valioso, os meios expressivos se retiram numa atitude discreta de serviço. Tal discrição é fonte de elegância. Eis aqui a sobriedade peculiar do estilo, tão distinta, por ser profunda, da simples pobreza banal do mero esquema. Pensemos, por exemplo, no sucesso do coral alemão, com sua sóbria robustez de linhas, seu dramático dinamismo e profunda expressividade.
-------------------Continua...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

A ARTE SACRA E A PARTICIPAÇÃO NO PERFEITO


(1ª parte)

Toda arte é fruto de uma época e colabora para criar o espírito desta época. Circulo singular, de modo algum vicioso, que revela a forma elevadíssima de implicação que se dá entre as realidades que tecem a trama da vida do homem. Devido a esta correlação, o estudo das vicissitudes da arte não constitui um mero trabalho erudito, mas uma grande tarefa, urgente para todo aquele que se considerar chamado para a ação social mais profunda.
Hoje nos encontramos, evidentemente, numa época de crise. Para que esta não seja um prelúdio do caos, mas um trauma de nascimento, depende de nós, da orientação que dermos à arte através da solução que oferecermos aos grandes temas que conferem a nossa vida espiritual seu impulso e seu sentido mais profundo. Passemos esquematicamente em revista, à guisa de exemplo, alguns destes temas.
A arte sacra contemporânea manifesta com grande nitidez que o decisivo em todo processo crtatlvo é o mundo espiritual que se encarna em cada obra e conjunto de obras. No capítulo 7 será exposto que toda obra de arte completa está integrada por sete estratos ou níveis de realidade. O sexto estrato é dado pelo aspecto da vida humana que se exprime na obra. Tal aspecto ou "mundo" não se deduz à representação de fatos, figuras ou acontecimentos. Essa representação - estrato terceiro da obra - pode, em alguns casos, não ocorrer. Nas obras não figurativas, porém, há de transluzir, inevitavelmente, um mundo peculiar: a forma comunitária de oração no canto gregoriano, o estilo galante nas obras clavecinistas do século XVIII, a adesão à natureza num jardim inglês...O estilo próprio da arte sacra atual corresponde a influências muito diferentes, e entre elas destaca-se a volta ás origens da piedade cristã. O mundo simples e profundo de alguns fiéis que se reúnem para fundar comunidade e criar um clima de oração e de amor mútuo é plasmado arquitetonicamente nas novas igrejas. Dai por que sua meta não consiste em conseguir formas belas ou espaços grandiosos, mas em oferecer á comunidade crente âmbitos que sejam a manifestação luminosa de sua vida em unidade.
COMO ENTRAR EM RELAÇÃO DE PRESENÇA COM O TRANSCENDENTE
Atualmente sente-se de modo Intenso a necessidade da abertura comunitária, a fundação de âmbitos de encontro. Mas o que significa fundar um âmbito de presença? A arte sacra atual acaso favorece a instauração de âmbitos religiosos de presença? Hoje sublinha-se com insistência a importância dos ambientes, da Stimmung. Mas poucos se preocupam em deixar claro a necessidade de não confundir a autêntica transcendência religiosa - que é a passagem a um âmbito de presença comprometido e transfigurante - com a transcendência fictícia que anda aliada com a falsa infinitude do mero estar no vazio do objetivo-figurativo.
Não há nada mais urgente hoje em dia na filosofia e na arte do que adivinhar o valor do não figurativo, que não se reduz a mera in-objetividade. Decisiva e sutil tarefa na qual, sem dúvida, os grandes místicos espanhóis podem nos indicar o caminho a seguir. São João da Cruz fala da noite - a do sentido e a do espírito - em poesias exuberantes. A Espanha, terra de místicos e ascetas, produziu uma plêiade de grandes pintores e escultores sacros. Estamos claramente diante de um problema de Intuição, não de despojo; problema de encher o sensível de conteúdo e conseguir uma visão de longo alcance.
A ARTE SACRA E A EXPRESSÃO DO PERFEITO
A arte sacra nasce da convivência comprometida e leal com a grandeza do divino, não da consciência do nada do terreno. Brota de uma plenitude, não do depauperamento de quem adota a todo transe credos artísticos arbitrários e violentos.
O Importante, consequentemente, é estar a serviço do valioso, mergulhar na riqueza do dogma vivido liturgicamente - de modo sensível e metassensível igualmente - e expressar Isso em atitude de abertura, indo mais ao originário-profundo-comunicável do que ao original-egoísta-fechado. A arte de hoje é em grande parte incomunicável devido à pretensão obsessiva de originalidade, não devido à falta de preparação e sensibilidade por parte do povo. Quando se destaca o valor do objetivo frente ao subjetivo, estamos certos se tentarmos sublinhar a fecundidade do profundo-comunicável e a esterilidade da retração egoísta daquele que nada contra a corrente das forças fecundantes do amor, força de gravitação entitativa que Paul Claudel denominou engenhosamente "co-naissance des choses". O objetivo na liturgia não é relevante por ser não-subjetivo, mas por encerrar riqueza entitativa muito alta.É perigosa no homem atual sua inclinação para o superficial e sua tendência a exaltar certas formas banais de objetivismo, que se reduzem às camadas do real mais à mão, menos densas, menos aptas para nutrir o espírito de um ser, como o homem, nascido para se encontrar com os valores. Por isso a orientação atual para o comunitário é, rigorosamente, índice de tensão para o profundo valioso, já que os valores são iluminados na mistura de âmbitos.De modo semelhante, a exigência contemporânea de pureza e sobriedade está impelida pela intuição do profundo, que leva consigo altas exigências de clareza e precisão. O que conta não é, portanto, a nudez em si mesma, mas enquanto é veículo de plenitude; de forma análoga, o silêncio não se faz valer enquanto mera falta de palavras, mas como sinal da profundidade inexaurível da palavra profunda.
1.CARACTERÍSTICAS DA SENSIBILIDADE ATUAL
a) Essencialismo
Com este nome são designadas, entre outras, as duas atitudes seguintes:
- A atitude daqueles que tentam glorificar a atividade criadora mesma às custas da obra realizada. Nesta linha de pensamento, Merleau-Ponty afirma que o achado do absoluto paralisa a busca metafisica, e Karl Jaspers sustenta que o encontro com a transcendência entendida em sentido vigorosamente realista paralisa o salto para o in-objetivo em que consiste a atividade filosófica entendida como ato-de-transcender.
- A atitude dos que se esforçam em prescindir do acessório para destacar o essencial.
Na altura em que nos encontramos não pode ser negada a urgência de buscar quintessências e não miscelâneas. Mas esta busca deve estar ligada pela convicção de que o simples não é o pobre, mas aquilo que tem poder de domínio sobre a diversidade amorfa do múltiplo, e que o decisivo não é o esforço da busca, mas a realidade que constitui a meta e, portanto, o impulso de buscar.
b) Sinceridade
O amor e o respeito sempre crescentes atualmente pela matéria se manifestam na fidelidade aos diferentes materiais, que Já não podem ser divididos em "nobres" e "ignóbeis". A matéria de per si está grávida da forma (Merleau-Ponty). Daí o caráter espúrio e inartístico que apresenta toda adulteração dos materiais, por ser um atentado contra o direito de a matéria mostrar seu poder expressivo peculiar. Nunca se valorizará suficientemente esta vontade de fidelidade ás exigências legítimas do real.
c) Funcionalismo
É mérito dos tempos modernos ter intuído de maneira certa a proximidade misteriosa em que se acham o belo e o funcionalmente perfeito no campo insondável da vida, inclusive no campo da técnica, cujas formas, na medida em que são aperfeiçoadas, aproximam-se sem querer das formas vitais. Quando o funcionalismo procede de dentro para fora, endogenamente, a perfeição funcional está acompanhada pela beleza. Não costuma ser assim quando se elabora um artefato visando a consecução de um determinado fim.Ao por a preocupação funcionalista em primeiro plano, afinou-se a sensibilidade para ver o encanto sereno do simples, do preciso, do eficaz e oportuno. Sem reduzir o estético ao funcional (ao útil na ordem funcional), entreviu-se um vinculo fecundo entre a obra bem feita e a obra bela vínculo que revela as profundas e misteriosas raízes ontológicas da beleza.É da maior importância neste contexto compreender a fundo o conceito de função. Não se trata da aplicação prática de um esquema prévio, mas do serviço a algo profundo, algo muito profundo no mundo do real que toma corpo e se revela na obra criada. O reto funcionalismo não radica em construir sob os impulsos do frio cálculo racional, mas em adivinhar a alma oculta das coisas e encarná-la num meio expressivo.As esplêndidas fotografias de Andrés Feininger - publicadas em sua obra Anatomia de la Naturaleza - mostram a beleza de esqueletos de animais cuja perfeição técnica assombra os especialistas em resistência de materiais. Mas não esqueçamos que em tais animais está latente um princípio vital que orienta e rege todo o processo constitutivo de seu ser.
"Sem dúvida não é devido a um acaso o lato de que os melhores resultados da arte modema religiosa coincidem com aquelas obras em cuja preparação e realização esteve mais presente a atenção a sua 'função' concreta... Foram os olhos puros que conseguiram uma arte de hoje na qual as formas voltaram a resplandecer, não porém ao serviço de uma teoria paradoxalmente tão antiartística como a da 'arte pela arte', mas em verdadeira liberdade. Parece-me que a melhor arte de nosso tempo é assim porque foi fiel a esta estrutura da realidade artística. E sua fidelidade consistiu em ter conjugado a essência da arte, que consiste na forma, com a essência da forma, que consiste na expressão. É por isso que a arte contemporânea, contra o que alguns se empenharam em manter teimosamente, é uma arte essenciaImente 'aberta', e aberta, de fato, a uma transcendência possível, e, em potência, a uma transcendência real" (cf. F. Pérez Gutiérrez. La indignidcd en el arte sacro. Madri, Cristiandad, 1961, p. 138, 111).
in : QUINTÁS, Alfonso López. Estética, Petrópolis, Ed. Vozes, 1992 - pág 99 a 107.
-------------------- próxima parte será publicada no domingo (07/10)

domingo, 9 de setembro de 2007

A Espiritualidade das Catacumbas (cont.)


(última parte)

Espiritualidade bíblica

Pintores e incisores, escultores e epígrafos, parecem-nos embebidos e inspirados pela Palavra de Deus. Aqui, o Antigo Testamento é todo meditado e interpretado à luz do Novo Testamento. Parece ouvir os temas centrais dos Evangelhos e das Cartas. Assim como a Liturgia e a literatura patrística, também a Espiritualidade das Catacumbas alimenta-se das Sagradas Escrituras, a exemplo da mártir Cecília que, segundo as Atas do martírio "semper evangelium Christi gerebat in pectore" (carregava sempre consigo o Evangelho de Cristo), e no ato supremo do martírio indica com os dedos a Unidade e a Trindade de Deus.

Espiritualidade nova e transformadora

Descobre-se aqui a verdadeira revolução operada pelo Cristianismo. Estão presentes de modo particular dois tipos de personagens de grande força espiritual: o "mártir" e a "virgem". O "mártir" dá a vida para atestar a certeza da própria fé; dá-la com serenidade e sem lamento em meio ao desencadear-se de brutalidades e torturas; morre sem ódio pelo assassino, antes, implora o perdão para ele. Muitos cristãos sepultados nas catacumbas realizaram de modo sublime e em inúmeros casos o martírio cruento. A figura da "virgem" cristã não está ausente das catacumbas. É significativo sobre isso o poema damasiano em honra de sua irmã Irene, sepultada no complexo calistiano:
"... Esta, quando ainda em vida, tinha-se votado a Cristo,assim que o mesmo santo pudor provou o mérito da virgem...E agora, quando Deus vier até mimlembra-te de Dâmaso, ó virgem,para que a tua luz me ilumine".
Saindo das Catacumbas de São Calisto, a última grande lápide que se vê no fundo da escada é a de Baccis. Grandes e rudes caracteres vermelhos em pedra cinzenta contam uma humilde história. Quem meditá-la perceberá com os olhos da fé, transparecer por detrás das letras dois vultos: um delicado, da menina morta, e outro áspero, do pai, no qual brilha um sorriso de ternura cheio de lágrimas. Eis as palavras: "Baccis, doce alma. Na paz do Senhor. Viveu 15 anos, 75 dias. (Morreu) nas vésperas das calendas (dia 1º) de dezembro. O pai à sua dulcíssima filhinha ". Uma onde divina de pureza e de ternura entrara com a fé de Cristo também nas famílias mais humildes.
Nas mesmas catacumbas desceu certo dia um peregrino em busca de conforto. Entrou rezando, e no fundo da escada, confiou à parede um augúrio de vida feliz entre as almas diletas para a sua morta: "Sofronia vivas cum tuis" ("Sofrônia, vivas com os teus"). No fundo da escada o querido nome aparece de novo com um augúrio de vida em Deus: "Sofronia, vivas in Domino" ("Sofrônia, vivas no Senhor"). Enfim, num cubículo ao lado de um arcossólio, a escrita aparece uma terceira vez. Na oração, o luto perdeu a sua amargura e tornou-se uma esperança cheia de imortalidade: "Sofronia dulcis semper vives in Deo" ("Sofrônia, vivas docemente em Deus para sempre"), escreve o peregrino no alto. Mas parece que de seu coração acalmado transborde ternura, e ele ainda grava: "Sofonia, vives...": (Sim, Sofrônia, tu viverás!...).
Admirável síntese em que se funde um drama humano e de luto com a expressão apaixonada da fé consoladora: vida além da morte, vida entre os caros, vida perene, vida em Deus.Enfim, com as relações familiares aparecem nobilitadas as Relações sociais. As sepulturas cristãs ignoram indicações de cargos e honras, habituais nos epitáfios pagãos.São freqüentes, porém, as indicações, não só de profissões elevadas, como a de Dionísio médico e padre, mas também de ocupações humildes, dos pobres "banausòi", "operáios", desprezados pelos sábios do paganismo. Temos só em São Calisto o hortelão Valério Pardo que traz na mão esquerda um maço de hortaliças e na direita a foice; Márcia Rufina, a digna patroa, a quem Segundo Liberto coloca uma inscrição com o símbolo da oficina: um martelo e a bigorna. Num arcossólio a vendedora de hortaliças senta-se entre seus maços de verdura, etc. A religião do Artífice de Nazaré tinha dignificado o trabalho.Pode ser útil acrescentar e esses aspectos da espiritualidade ilustrados pelo saudoso estudioso P. Ugo Galizzia, SDB, professor de Exegese do Novo Testamento e de Arqueologia Cristã no Pontifício Ateneu Salesiano de Turim (Itália),um outro aspecto da espiritualidade das catacumbas freqüentemente esquecido, ou seja, a espiritualidade do silêncio.


Espiritualidade do silêncio


Pode parecer estranho falar de espiritualidade do silêncio, porque o silêncio, à primeira vista, é apenas um vazio sem sentido, pura ausência de palavras, pensamentos e sentimentos. Na realidade, o silêncio da palavra, da imaginação e do espírito é uma dimensão humana fundamental: pertence à nossa essência, porque é o vigilante do nosso mundo interior, a condição prévia da escuta, a necessária premissa de toda comunicação humana.Percorrendo as galerias das catacumbas ou detendo-nos nas criptas, somos imersos numa atmosfera de silêncio, que é contudo apenas o silêncio de um antigo cemitério. Ele, porém, atinge-nos intimamente, porque não é silêncio de morte, de saudade sem esperança de tudo que era caro aos Cristãos durante suas vidas. É silêncio de plenitude, repleto das vozes dos mártires que viveram a nossa vida, e que corajosa e constantemente testemunharam a própria fé não só em tempo de paz religiosa, mas sobretudo nas perseguições.Este silêncio é cheio de paz, de esperança numa futura vida melhor na luz da ressurreição de Cristo. O silêncio das catacumbas está cheio de história e de mistério; é sagrado, significativo e mais eloqüente do que as próprias palavras; é enriquecedor porque nos leva a refletir sobre a Igreja das origens, o heróico testemunho dos Mártires, como também o testemunho ordinário dos simples cristãos, que não sepultaram a própria fé debaixo da terra, mas viveram-na na vida de cada dia, na família, na sociedade, no trabalho, em cada tarefa ou profissão.É um silêncio comunicativo, que fala ao coração e à mente dos peregrinos, que lhes revela o mundo desconhecido da Igreja primitiva, com suas classes sociais, sentimentos e afetos; com as penas e as esperanças dos Cristãos sepultados nas catacumbas. Não podemos sufocar esse silêncio, que fala por si mesmo, ou melhor, grita mais imperiosamente. São Gregório Magno falou do "strepitus silentii", do "fragor do silêncio", uma marca que se adapta perfeitamente ao silêncio das catacumbas.Esta atmosfera de silêncio, evocativa da vida e do sacrifício dos primeiros Cristãos, constitui um lugar privilegiado de meditação espiritual, de revisão de vida, de renovação da fé. O seu testemunho corajoso e fiel interpela-nos pessoalmente. Qual é a "nossa" resposta hoje ao amor de Deus, numa sociedade que talvez não é tão hostil como a deles, mas que é principalmente indiferente aos valores religiosos?As catacumbas deixam-nos uma mensagem de fé silenciosa, mas clara, tão mais necessária porque a nossa época está doente de rumor, de exterioridade, de superficialidade. Aqui as palavras não são necessárias, porque as catacumbas falam por si mesmas.


Isto é o Cristianismo, em seu grau máximo de simplicidade e de intensidade, incorporado em figuras de mártires, confessores e virgens, que falam das criptas e deambulatórios, das pinturas e lápides consagradas por quase dois milênios de veneração. É justamente esse o caráter de essencialidade elementar, eficaz, inexaurível, que fez das catacumbas romanas uma das metas prediletas da Cristandade peregrina.Nos passos dos mártires e dos primeiros cristãos, a espiritualidade das catacumbas haverá de ajudar-nos a celebrar o Jubileu com uma verdadeira e profunda renovação da nossa fé para "viver da plenitude da vida em Deus" (Tertio Millennio Adveniente, n. 6).

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

6º Encontro Nacional de Arte Sacra (2ª parte)

Segunda parte da carta de Dom Joviano de Lima Júnior,SSS aos participantes do 6º Encontro Nacional de Arte Sacra que se realizou de 25 a 28 de julho em Vitória - ES.
A capacidade simbólica do espaço litúrgico

... tenha-se presente que a finalidade da arquitetura sacra é oferecer à Igreja que celebra os mistérios da fé, especialmente a Eucaristia, o espaço mais idôneo para uma condigna realização da sua ação litúrgica; de fato, a natureza do templo cristão define-se precisamente pela ação litúrgica, a qual implica a reunião dos fiéis (ecclesia), que são as pedras vivas do templo (cf. 1Pd 2,5).
O mesmo princípio vale para toda a arte sacra em geral, especialmente para a pintura e a escultura, devendo a iconografia religiosa ser orientada para a mistagogia sacramental. Um conhecimento profundo das formas que a arte sacra conseguiu produzir, ao longo dos séculos, pode ser de grande ajuda para quem tenha a responsabilidade de chamar arquitetos e artistas para comissionar-lhes obras de arte destinadas à ação litúrgica...”

“Enfim, é necessário que, em tudo quanto tenha a ver com a Eucaristia, haja gosto pela beleza; dever-se-á ter respeito e cuidado,também, pelos paramentos, alfaias, os vasos sagrados, para que interligados de forma orgânica e ordenada, alimentem o enlevo pelo mistério de Deus, manifestem a unidade da fé e reforcem a devoção”[1]

A sacramentalidade da ação litúrgica torna-se mais evidente quando o belo se expressa com toda a sua força. Tomemos como exemplo a visibilidade da fonte batismal.

O batistério, lugar expressivo da unidade de toda a Igreja, deve ter a sua visibilidade garantida no espaço litúrgico. A partir da Conferência de Aparecida, se fala muito em Iniciação Cristã, da qual o Batismo é o primeiro sacramento. Como sabemos o elemento mais ligado ao Batismo é a água. Mas, no rito há também a unção com o óleo dos catecúmenos e com o óleo do Crisma. De um lado, temos na visibilidade do batistério um apelo constante à conversão – ao discipulado e, de outro, o envio missionário. O cristão é chamado a fermentar a sociedade. Daí a tensão em direção ao sacramento da maturidade cristã que é a Crisma. Todo o processo de Iniciação Cristã tem o seu ponto alto na Eucaristia – a mesa do Senhor. No momento em que se coloca em questão a reforma litúrgica do Vaticano II, é preciso ressaltar o altar como símbolo de Cristo, ao redor de quem toda a assembléia celebrante se reúne. Um forte motivo para se garantir a visibilidade do altar.

É preciso haver uma harmonia entre batistério – Fonte Batismal e a Mesa eucarística, sem nos esquecermos da Mesa da Palavra. Aquilo que Romano Gardini fala da obra de arte, vale sobretudo para o espaço litúrgico: “Uma autêntica obra de arte não é, como toda presença percebida imediatamente, um mero fragmento do que se exibe, mas uma totalidade.”[2] Acrescenta que “a unidade do objeto que se capta e da pessoa que o capta tem um poder evocador. Em torno dela se faz presente a totalidade da existência: a totalidade das coisas, a natureza e a totalidade da vida humana, a história, ambas coisas vivas numa só.”[3] É nesta totalidade que o belo se manifesta e o espaço litúrgico se revela como um lugar de relações. O espaço litúrgico não se destina somente à oração pessoal, mas, sobretudo, para uma ação comunitária. Ele precisa ser um enunciado da liturgia que ali é celebrada. Sem querer ensinar arquitetura ao arquiteto, é preciso levar em conta que o espaço litúrgico deve ser sempre pensado como um lugar ocupado por pessoas. Não simplesmente um espaço admirado pela sua harmonia e beleza. Diante de tudo isso, surge uma pergunta: Qual a melhor solução para uma maior visibilidade da fonte batismal? E, para que ao olhar o ambão quem entra no espaço litúrgico possa dizer: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”?

Uma vez garantida a beleza e a visibilidade dos elementos que compõem o espaço litúrgico, caberá à liturgia celebrada, enquanto itinerário de fé e vida, levar as pessoas a passarem do olhar de admiração da beleza da arquitetura à contemplação da beleza do mistério. De certa maneira, o processo de iniciação nunca termina, pois a mistagogia faz com que as pessoas experimentem o que celebram. Ainda uma observação de J. M Canals: “O ser humano expressa a beleza de duas formas: a primeira, quando se inspira na natureza, em algo que está fora de si, e se esforça por reproduzir formas, cores e sons; a outra, quando ele entra dentro de si mesmo, e de seu espírito criador faz brotar a forma que plasma no exterior em obras e atitudes pessoais e transforma a matéria dando-lhe forma, cor e ritmo.”[4]

A Igreja é a casa do povo

O templo, onde a comunidade se reúne para expressar o seu amor a Deus, é a casa do povo. Com suas portas sempre abertas, a domus ecclesiae a todos acolhe. A sua presença na cidade já é um sinal de fraternidade e solidariedade.

Toda a comunidade deve ser envolvida na obra de arte, sobretudo quando se tratar da construção de uma igreja, verdadeiramente a Casa da Igreja, lugar e escola de comunhão dos pobres[5].


Dom Joviano de Lima Júnior, SSS

sábado, 11 de agosto de 2007

6º Encontro Nacional de Arte Sacra


Abaixo a carta de Dom Joviano de Lima Júnior,SSS aos participantes do 6º Encontro Nacional de Arte Sacra que se realizou de 25 a 28 de julho em Vitória - ES.
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O Esplendor e a Beleza na Ação Litúrgica

Com estas palavras do Papa Bento XVI gostaria de abrir este encontro:

“A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De fato, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade (veritatis splendor). Na liturgia brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a si e chama à comunhão.” (Sacram. Caritatis,35).

“A profunda ligação entre a beleza e a liturgia deve levar-nos a considerar atentamente todas as expressões artísticas colocadas a serviço da celebração. Um componente importante da arte sacra é, sem dúvida, a arquitetura das igrejas, nas quais há de sobressair a coerência entre os elementos próprios do presbitério: altar, crucifixo, sacrário, ambão, cadeira.” (Sacr. Caritatis41)

“A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no mistério pascal. A beleza da liturgia pertence a esse mistério: é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra.”[1]


O valor teológico e litúrgico da beleza

A espiritualidade foi o foco do último encontro, na cidade d Rio de Janeiro. A espiritualidade, como a obra de arte é uma experiência a ser transmitida. Todo artista transmite o que ele toca com as mãos, o que se encontra no u coração. Há,na 1 Jo 1,1-3, um texto iluminador:

O que desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam da Palavra da Vida – da vida que se manifestou, que nos vimos e testemunhamos, vida eterna que a vós anunciamos, que estava junto do Pai e que se tornou visível para nós - ,isso que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que tenhais comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o Filho Jesus Cristo.

Hoje, afirma-se que o lugar autêntico da teologia não é a sala de aula mas a festa. A justificativa está na história da composição e no uso dos livros da Sagrada Escritura que não foram redigidos como um texto qualquer. Mas foram redigidos para darem sentido à existência de um povo. Ser a sua memória. E projetar o seu futuro.

A originalidade da Sagrada Escritura reside no fato de ter sido escrita para ser proclamada, narrada e cantada. A Palavra de Deus, em Israel, faz parte da constituição do povo e do culto da nação, juntamente com a promessa da terra. Ela está voltada para o louvor da presença amorosa de Deus e ao reconhecimento da sua ação benéfica no meio do povo. O povo é de Deus e Deus é o Deus do seu povo!

O Novo Testamento valoriza a festa, enquanto ela é decorrência de um encontro, de uma experiência com o Ressuscitado. Isso se torna mais evidente na liturgia celebrada[2]. E dando por adquirido que a melhor linguagem para falarmos de Deus seja a beleza, a liturgia só poderá cumprir sua função se for bela. Parafraseando, K. Rahner[3], eu diria que a liturgia é bela ou não é liturgia autentica! A comunicação – a linguagem da liturgia – torna-se inteligível ao mundo de hoje se estiver impregnada de beleza.

A beleza na liturgia faz com que a presença de Deus seja transparente aos nossos contemporâneos. Segundo J. Canals[4] “a beleza é uma dimensão interior que se abre à exterior e se encarna em formas diversas. Na cultura atual, dominada pela técnica e pelo utilitarismo, urge resgatar a beleza e a gratuidade. A beleza, para um cristão, é uma exigência interna da fé que o leva à Beleza do Deus que é Verdade e Amor. Quanto à Liturgia, não deve ser condenada à banalidade, mas é necessário fazer com que ela frutifique em beleza e em santidade.” No número 35 da S. Caritatis, Bento XVI ; “A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza.” O grande ícone desta beleza, que está ligada à Trindade, será sempre a Páscoa de Cristo.

A beleza, além de abrir-nos um horizonte sem fronteiras, é uma via privilegiada para a compreensão do ato de fé. “Concluindo, a beleza não é um fator decorativo da ação litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isso nos há de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à ação litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza.”[5]

----------------------------------Continua

autor: Dom Joviano de Lima Júnior,SSS

domingo, 5 de agosto de 2007

A Espiritualidade das Catacumbas


(3ª parte)

Espiritualidade social

A espiritualidade das catacumbas é também "social": o cristão habituado a dizer na oração não mais "Meu Pai", mas "Pai nosso", sabe que na família de Deus não se vive de modo isolado, mas socialmente: "Sendo muitos, somos um só corpo em Cristo" (Rm 12,5). As catacumbas dão-nos a imagem desse corpo místico no qual os cristãos ordinariamente convivem em hierarquia de funções e em unidade de espírito. Aqui os Pontífices Mártires repousam em meio à humilde multidão do seu rebanho.

Da parte frontal de um sarcófago, um jovenzinho eleva as mãos em atitude de orante bem-aventurado na visão de Deus: aos seus lados, parece que Pedro e Paulo, os fundadores da Igreja de Roma, o introduzem na pátria beata.

Em Domitila, na pintura de um arcossólio, Veneranda chega com roupas de viagem, peregrina que concluiu o seu exílio, às portas da pátria: a santa do lugar, Petronília, com aspecto suave, a acolhe e faz entrar.Há um intercâmbio de orações entre as diversas partes da Igreja! Centenas de peregrinos recomendam-se a Pedro e Paulo sepultados na Memória da Via Appia Antiga (Catacumbas de São Sebastião), gravando breves mensagens na argamassa da tríclia (ambiente para banquetes funerários, a céu aberto): "Paulo e Pedro, orai por Vítor - Pedro e Paulo, tende Sozomeno no pensamento".
No ingresso do mausoléu dos Papas em São Calisto, a parede está constelada de orações: "S. Sisto, tem Aurélio Repentino no pensamento", "Espíritos Santos... que Verecundo bem navegue com os seus". Às vezes não há uma oração explícita: basta, para implorar, uma qualificação acrescentada ao nome: "Felicião, sacerdote, pecador".Contam-se aos milhares as inscrições com orações dos vivos pelos defuntos ou com solicitações aos mortos para que rezem pelos que estão vivos. Na sociabilidade do Corpo Místico, cada indivíduo está ligado à Igreja inteira.

Espiritualidade Escatológica

O cristão tende aos "éscata", isto é, às realidades definitivas da vida eterna: "Não temos aqui em baixo morada permanente, mas estamos em busca da morada futura" (Hb 13,14). "A nossa pátria é nos céus" (Fl 3,20). Basta um breve giro por uma catacumba para ver essa verdade brilhar da mais viva luz. E chegamos à escada que desce à Cripta dos Papas (foto acima). Na parede esquerda uma lápide fala-nos de Agripina, "cuius dies inluxit": o dia da morte foi o dia do seu ingresso na luz, na esperada bem-aventurança. Pouco abaixo uma inscrição grega de Adas, que "ecoimète", "adormeceu", como a menina de Cafarnaúm, que - como diz o Evangelho - "não está morta, mas dorme" (Mc 3,59), e espera a chamada d'Aquele que é a ressurreição e a vida.Numa capela, Jonas, que escapara das garras do monstro representante da morte, repousa placidamente à sombra de um caramanchão. Mais além, o Bom Pastor aperta com ternura o cordeiro nos ombros: a morte não é mais terrificante para o cristão, que é levado por Jesus a verdes pastagens.
Da parede de um cubículo cinco cristãos elevam os braços em ato de adoração; ao redor deles um belíssimo jardim florido: é o paradisus, o jardim celeste. De uma lápide, entre as mais antigas, uma cruz-âncora anuncia-nos que chegou ao porto do paraíso uma cristã que tem um luminoso nome de estrela: "Hèsperos".Estes cemitérios são, também, cheios de paz. A resposta está na fé dos antigos cristãos, que freqüentemente fala no silêncio das catacumbas: "Porque procurais entre os mortos aquele que está vivo?" (Lc 24,5). "Eu sou a ressurreição e a vida" (Jo 11,25). "Não tenhas medo, somente fé" (Mc 5,36).
-------------------------------------Continua...

domingo, 29 de julho de 2007

A Espiritualidade das Catacumbas

(2ª parte)
Espiritualidade Sacramental

A espiritualidade das catacumbas é também sacramental. O mundo exterior da matéria entra, nos sacramentos cristãos, como sinal e como instrumento, realizando a redenção e a salvação do homem: Batismo e Eucaristia.Em nenhum outro cemitério encontram-se tantas representações sacramentais como as que encontramos nos Cubículos dos Sacramentos em São Calisto. Acenemos aos Sacramentos dos quais existe uma documentação maior.


BATISMO.


Não estamos ainda no tempo em que serão erigidos edifícios esplêndidos para honrar esse Sacramento (p. ex. o Batistério do Latrão). O Batismo ainda era conferido nas domus Ecclesiae, as casas de família, e não raramente em segredo. A grandeza do sacramento, porém, era conhecida. Paulo havia falado dele com termos grandiosos justamente na Carta aos Romanos (c. 6). Os cristãos sabiam que através do rito batismal, o homem morre e ressurge misticamente com Cristo, e é associado à vida divina pela eficácia desses atos redentores.Uma das mais antigas pinturas nos assim chamados Cubículos dos Sacramentos, em São Calisto (foto acima), mostra-nos o Batismo. Diante de um espelho d'água, senta-se um pescador que, com o seu anzol, tira um peixe para fora: agrada-nos ver nesse personagem um apóstolo, que obedece ao mandamento de Jesus: "Segui-me; eu vos farei pescadores de homens" (Mc 1,17).Muitos cristãos, "alcançados por Cristo" (Fl 3,12) após angustiantes experiências interiores, sentiam que o momento do Batismo marcara o início de uma vida nova. De aqui o nome que se lê numa lápide da tricora de São Calisto, nome que depois tornou-se tão comum na Cristandade: "Renatus": "Nasci de novo!".
EUCARISTIA.

E eis-nos diante da jóia destas Capelas: a trilogia eucarística.No afresco, os cristãos reunidos à mesa eucarística são sete, como os discípulos reunidos ao redor de Jesus ressuscitado às margens do lago; nos pratos diante deles está o peixe: Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. Na cena à esquerda, o sacerdote estende as mãos sobre uma pequena mesa onde está o pão eucarístico: referência clara ao ato de consagração reservado aos ministros; do outro lado da mesa, um orante com os braços elevados recorda-nos que, para ir para o céu, é preciso nutrir-se daquele pão consagrado (a Eucaristia).O terceiro quadro, à direita, é claro a quem se lembra das palavras do hino de Santo Tomás: "In figuris praesignatur cum Isaac immolatur": "Na imolação de Isaac é prefigurado o sacrifício de Cristo".Não podemos deixar de lado uma representação, preciosa pela sua antigüidade e pelo seu grande valor pastoral. Na Cripta de Lucina, datada do séc. 2º, na parede diante da entrada, estão representados simetricamente dois peixes, diante dos quais estão colocados dois cestos cheios de pães (foto acima). Entrevêem-se nos cestos duas taças de vinho. O peixe é Cristo; pão e vinho são as espécies sob as quais Ele se faz presente na Eucaristia.Estamos nas fontes da cristandade. O cristão antigo, consciente de que "não existe sob o céu outro nome dado aos homens, no qual possam ser salvos, senão o de Cristo" (At 4,14), sabe que só pode ser associado a Cristo através dos Sacramentos instituídos por Ele com essa finalidade.


domingo, 22 de julho de 2007

A Espiritualidade das Catacumbas


(1ª Parte)
Parecia ao desconhecido cristão dos primeiros tempos, que peregrinava na vasta necrópole calistiana, ter entrado na mística Jerusalém, na cidade que se tornara púrpura pelo sangue dos mártires e refulgente da sua glória. Ao sair, ele gravou de forma elegante, numa parede, estas palavras que ainda hoje podem ser lidas: "JERUSALEM CIVITAS ET ORNAMENTUM MARTYRUM DEI...": "Jerusalém, cidade e ornamento dos mártires de Deus".O peregrino de hoje, igualmente, entrevê nas catacumbas com espírito comovido o segredo íntimo da espiritualidade daqueles pontífices mártires, daquelas virgens e daquela inumerável multidão de desconhecidos cristãos.As inscrições e pinturas, supérstites a tantas devastações e depredações, revelam esse segredo, ao menos em parte, e ainda repetem as palavras de um antigo epitáfio cristão: "Tàuta o bìos": "Esta é a nossa vida".
A espiritualidade das catacumbas é a mesma da Igreja primitiva em sua juventude de conquistas e de martírio. Nutrida pelo cerne das escrituras, simples e poderosa, ela é a irmã das mais antigas liturgias, e assim o visitante das catacumbas bebe nas fontes da espiritualidade cristã.São vários os aspectos dessa espiritualidade:

Espiritualidade cristocêntrica

Essa espiritualidade coloca Jesus Cristo como a figura dominante. Aquilo que o sagrado Coração de Jesus, quer dizer, o sinal da bondade de Cristo é para o católico de hoje, para o cristão antigo era o Bom Pastor. Entre as representações das catacumbas essa é a mais freqüente; está pintada nos tetos, entre ricas decorações floreais, gravada toscamente nas placas sepulcrais, modelada em relevo sobre os sarcófagos e, enfim, esculpida com grega elegância numa das mais antigas estátuas cristãs que se conheçam (séc. 4º, Museus Vaticanos).

O cordeiro que repousa sobre seus ombros, seguro com força pelas mãos do pastor é o cristão (ao lado foto da catacumba de São Calixto, sec. III, Roma). Tudo ao redor respira a atmosfera de confiança que fazia Paulo exclamar: "quem haverá de separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome?" (Rm 8,35). O Salvador é freqüentemente representado em ação no meio dos homens: nos baixos-relevos ou nas paredes vê-se Jesus que toca os olhos ao cego ou que faz Lázaro ressuscitar do túmulo, que multiplica os pães ou muda a água em vinho: é o Cristo que passa fazendo o bem.Vêm, depois, os símbolos. Talvez as representações mais significativas sejam aquelas em que Cristo aparece sob o véu de um símbolo. Antes de Constantino, quando a cruz era usada todos os dias como patíbulo de escravos e de estrangeiros, o cristão cobria piedosamente o seu aspecto repelente com alguns símbolos, como, por exemplo, a âncora e o peixe. Ao lado de Jesus, os cristãos das catacumbas gostaram de representar, com afeto filial, a sua Virgem Mãe. Já nos inícios do séc. 3º, nas Catacumbas de Priscila, a figura suave de Maria, que segura Jesus junto ao seio, enquanto o profeta Balaão indica a estrela que resplende acima de sua cabeça. E ainda a Virgem que mantém o Filho nos braços, enquanto os Magos aproximam-se para oferecer os seus presentes. A adoração dos Magos é repetida nas várias catacumbas em pinturas, esculturas e outros objetos preciosos (reliquiários, marfins, pingentes, anéis).

--------------------------- Continua...

domingo, 15 de julho de 2007

A Influência da Liturgia na Arquitetura Cristã

Ícone Divina Liturgia
(Final)

A mentalidade moderna é outra, é democrática e não aceita privilégio de çastas (pelo menos o afirma). Mas é preciso fazer-se uma correção histórica: se a Igreja de um lado destacou os governantes (prestando um tributo de respeito perfeitamente justificável, criando um clima de mútua colaboração até hoje desejável, desde que não haja bajulação ou concessões indevidas), de outro lado prestigiou com estas medidas um grupo da classe média, não-nobre, nas Irmandades e Corporações. E sabemos que com isso ganhou a burguesia (hoje um termo que indica "classe rica", mas naquela época uma classe, se bem que respeitável, contudo muito distanciada da classe verdadeiramente dominadora da nobreza) prestígio e auto-confiança.
Por outro lado havia assim chance para que uma pessoa de origem humilde subisse na sociedade. Até as pessoas de cor viram-se assim respeitadas pela Igreja - ato corajoso para as circunstâncias dessas épocas passadas. É por isso, além do sincero entusiasmo pela fé, misturando menos do que hoje cristianismo e fetichismo, que os pretos e mulatos capricharam tanto na construção de suas igrejas, na aquisição de suas imagens, de seus Santos, na organização de suas Irmandades com Juiz, Provedor, cargos de direção, vestes solenes, tochas, alfaias iguais às demais Irmandades, suas festas, suas procissões e demais solenidades. É um aspecto de alcance sociológico importantíssimo, e uma contribuição da Igreja para o entendimento entre as classes sociais, pois pouco a pouco passaram as pessoas de cor a serem aceitas também em Irmandades, antes reservadas somente aos brancos. Foi uma contribuição justa, corajosa e ao mesmo tempo prudente, conseguindo de modo pacífico, o que mais tarde seria pleiteado em lutas sangrentas no campo civil;

3.1.5 e, finalmente, á recitação do oficio: oração em comum feita por monges, cônegos e membros de outras comunidades. Requer, em geral um tipo especial de bancos e assentos, as "estalas", o "Côro".
O projetista, o arquiteto deve providenciar para que haja espaço suficiente para a realização desses atos; para que as cerimônias possam desenvolver-se sem embaraço por todos que nelas participam direta ou indiretamente (chegada, saída, movimento em redor do altar, da pia batismal), para que recebam o merecido destaque os locais ou peças litúrgicas (altar, ambão, batistério, presbitério, coral) e para que o ambiente todo tenha um caráter próprio, sacro, propicio à função religiosa, à meditação, o recolhimento.
Influirá muito em tudo isso a idéia religiosa específica, mesmo dentro do Cristianismo.

3.2.1 É muito diferente, se se realiza uma Missa ou outra forma de Ceia Sagrada, o que requer um altar; ou se há somente uma reunião com pregação, canto e oração, sem altar.

3.2.2 Exerce enorme influência sobre arquiteto e decorador a concepção católica da Eucaristia: presença continuada de Deus no pão consagrado, mesmo terminada a Missa. Com ela atravessa a história da Arte Sacra o sacrário: desde a "pomba Eucarística", suspensa do baldaquino do altar (ver no Museu de Salzburg e noutros), pelo "Sakramentshaeuschen" ("Casa do Sacramento"); um sacrário embutido na parede, ou colocado numa coluna isolada, uma stela; até a posição central no altar pré-conciliar, fazendo dele mais um trono do Santíssimo, grandioso, volumoso com seu retábulo, do que – o que é sua função própria - o local do sacrifício da missa; e até a posição atual da liturgia: altar como centro de atenção; sacrário separado dele, mas expressando dignamente a fé na presença eucarística.

3.2.3 Há muitas maneiras de demonstrar o respeito: levantar-se, inclinar-se, tirar o chapéu e outros procedimentos. Mas praticamente influem as tradições católicas e protestantes no desenho dos bancos de igreja: para católicos são para sentar e ajoelhar; para protestantes só para sentar. (Para judeus só para sentar, mas dispondo de uma espaçosa gaveta de guardar livros, chale e outros objetos). '

3.2.4 Não a doutrina, mas certas idéias mudaram entre os católicos a respeito da colocação da pia batismal. Em tempos passados, desde as mais remotas épocas, pensaram assim: as crianças, ou melhor, as pessoas, a serem batizadas, crianças ou adultos, são pagãos, e por isso não entram na igreja. Para entrar, são primeiro batizados. Por isso foi o batistério colocado ou fora da igreja (Latrão em Roma, por exemplo), fora do local do culto (casa de Dura-Europos, séc. lll), ou na igreja, mas logo à entrada.
Hoje há preocupação de fazer participar a assembléia dos fiéis em ato tão importante para a vida cristã; e, por isso, é colocada a pia batismal dentro da nave, na proximidade do altar, á vista de todos. A preocupação pastoral venceu o espírito de "volta ás fontes", geralmente seguido na reforma litúrgica do Concilio Vaticano II. Com isso aproximam-se a prática católica e protestante sobre o local da pia batismal.
Os batistas têm de cuidar ainda de outra forma deste assunto. Pois para eles é obrigatório o batismo por submersão (os católicos são livres para usar submersão, infusão ou aspersão). Isso requer uma piscina, com degraus para descer e subir é uma espécie de “dique seco" para o ministro que acompanha o batizando, descendo e subindo, sem se molhar.

3.2.5 Grande influência sobre arquitetura e decoração teve o culto dos Santos da Igreja católica e, parcialmente, da Igreja anglicana. Já falamos das "memórias" das Catacumbas, dos altares das Basílicas. Segue-se historicamente o desenvolvimento do retábulo com mais de uma imagem ou pintura, os altares laterais, até em capelas próprias, ás vezes uma série destas, em honra de outros Santos; fora da colocação de imagens e pinturas em outras partes nas paredes, na fachada, no adro.
Continua na Igreja católica o culto dos Santos. Nele o Concilio Vaticano II nada mudou. Mas sugere-se maior simplicidade, evitando um número excessivo de imagens, o que fica até anti-estético, coisa que o barroco colonial brasileiro com seu profundo senso de proporção soube evitar, apesar de toda a riqueza de expressão desenvolvida.
E, o que é mais importante: insiste-se na reforma atual que a disposição da cruz, do Cristo crucificado, de outras imagens de Cristo, de Nossa Senhora, dos outros Santos, exprimam visualmente o que sempre foi assunto de fé: Deus acima de tudo; Cristo antes de tudo.

4. Outro aspecto a ser considerado no exame do binômio: liturgia - arquitetura é o elemento humano, tanto do arquiteto criador, como do utilitário, do freqüentador da igreja.
Pois, se é verdade que o culto consiste numa homenagem prestada pelo homem, sozinho ou em grupo, a Deus - também é verdade que este homem que presta a homenagem, não é o mesmo de uma época para outra.

4.1 Deixando de lado outros sistemas religiosos, e ficando só no Cristianismo, vemos nos templos de diferentes épocas marcas diversas, deixadas por gerações diferentes.
Fonte: Separata de Liturgia e Vida – 1976
Por Mons. Guilherme Schubert
Presidente da Comissão Arquidiocesana de Arte Sacra do Rio de Janeiro

domingo, 8 de julho de 2007

A Influência da Liturgia na Arquitetura Cristã

(Foto da Basílica de Santa Sofia em Istambul, antiga Constantinopla)




2ª PARTE
2.5 Com a liberdade religiosa, proclamada em 313 pelo Edito de Milão do Imperador Constantino, e a proteção do mesmo, os cristãos se reuniram em locais públicos, crescendo também muito o número de adeptos.
Por isso ocuparam primeiro edifícios públicos já existentes, que se prestaram à realização do culto, principalmente as "Basílicas" que chegaram a dar o nome ao "estilo Basilical". "Basílica", do grego, significa: edifício real. Era o Tribunal de Justiça, local da jurisprudência. Amplas, dignas, influíram com sua disposição para a arquitetura sacra e orientaram a renovação litúrgica atual em vários pontos. Vejamos: no centro da "abside" a cadeira do PRETOR que julga os casos. Ao seu lado os juízes assistentes, pois ele raramente era jurista, mas político, administrador. Em frente dele um pequeno altar em forma dum bloco decorado, no qual se oferecia incenso a Minerva, deusa da justiça (como hoje temos o crucifixo nas salas do juri para lembrar aos juizes a responsabilidade diante de Deus, eterno Juiz). Dentro do recinto do público dois ambões, espécie de tribunas, ligeiramente elevadas, para que os oradores fossem vistos pelo público: um para os depoimentos das testemunhas, outro para a defesa dos advogados.

2.6 E a aplicação na Basílica cristã? E na liturgia renovada atual? No fundo da abside a cátedra do Bispo ou celebrante principal, o sacerdote "que preside". A seu lado os presbíteros assistentes, diáconos, auxiliares. No lugar do altar da Minerva, o altar cristão, em várias formas, às vezes bastante complicadas em seus desníveis como nas Basílicas Romanas (S. Clemente, S.Lourenço por exemplo). Próximos dele, os ambões para o evangelho, a epístola e outras leituras. Acrescentaram à Basílica um bloco a mais na entrada: um pequeno claustro, com o batistério (ou uma fonte) no centro, criando um ambiente de preparação.


BASÍLICA PAGÃ

1. Pretor
2. Juízes assistentes
3. Altar de Minerva
4. Ambões de testemunhas e advogados




BASÍLICA CRISTÃ

1. Bispo
2. Clero
3. Altar
4. Ambões do Ev. e da Epist.
5. Adro
6. Batistério ou fonte

Com esta Basílica cristã, portanto não mais um edifício público já existente, usado para o culto, mas um edifício erigido "ad hoc", completamos o esquema do lugar para oculto da era páleo-cristã:

1 - Última Ceia
2 - Reuniões em casas particulares: "insula" - "villa" - "domus"
3 - Catacumbas
4 - Basílica: edifício público já existente
5 - Basílica cristã: edifício erigido "ad hoc".

Autorizado a exercer publicamente os atos religiosos, o Cristianismo desenvolveu rapidamente sua liturgia para formas mais ricas, estabelecendo a autoridade eclesiástica normas exatas a serem observadas.
Os templos, especialmente erigidos, foram, e são até hoje, construídos para a realização:

3.1.1 do culto: a missa católica ou, conforme a denominação religiosa diferente, outra forma de "'ceia sagrada";
(Levamos neste estudo sempre em consideração também conceitos cristãos não-católicos, porque á matéria em si interessa a todos os cristãos, e tivemos a oportunidade de apresentá-la também numa conferência realizada no Colégio Bennett do Rio de Janeiro, de orientação Metodista)

3.1.2 da pregação: o ensinamento em forma especial, administrado pelo ministro;

3.1.3 de cerimônias marcantes da vida religiosa: batismo, crisma ou confirmação, casamento, funerais, outras comemorações;

3.1.4 participação da Religião na vida pública, ou manifestação pública da vida privada em datas cívicas, jubileus, comemorações de momentos importantes da vida coletiva.
Quem organiza uma cerimônia com presença de autoridades, terá a preocupação de garantir a todos um lugar, e um lugar apropriado à sua posição, não por bajulação, mas em sinal de respeito. Hoje faz-se isso apenas para o momento, pois o Concílio Vaticano II não quer que haja lugares fixos, reservados a alguma elite, dando a impressão de diferença de classes entre os visitantes da igreja.
É verdade que houve no passado camarotes (sic) exclusivos para os reis, lugares exclusivos para a nobreza, o patrono (nobre que mandou construir a igreja e cuidou de sua manutenção, seguindo-o seus descendentes), o juiz, o prefeito. Em S.Augustin, a igreja da Corte de Viena, existem até hoje tais camarotes, um para cada príncipe e princesa, dando a impressão de uma sala de espetáculos. Nas igrejas coloniais encontramos as grades que separavam na nave os recintos reservados às Irmandades (como na Europa as Corporações medievais, os Sindicatos da época) e as tribunas no andar superior, outra forma de camarotes destinados ás senhoras dos Irmãos.
--------------------------------------- Continua...
Fonte: Separata de Liturgia e Vida – 1976
Por Mons. Guilherme Schubert
Presidente da Comissão Arquidiocesana de Arte Sacra do Rio de Janeiro

domingo, 1 de julho de 2007

A Influência da Liturgia na Arquitetura Cristã










A Casa de São Pedro
exemplo de DOMUS ECCLESIAE




(1ª Parte)

1. O Cristianismo nascente encontrou-se com dois sistemas religiosos: o judaísmo e o paganismo.

1.1 Do paganismo separou-o tudo: desde a divergência fundamental no conceito de Deus e a conseqüente doutrina com seu culto, até o conceito de vida e moral. Se, séculos mais tarde, chegou a utilizar-se de templos pagãos, transformando-os em igrejas cristãs, ocupou apenas as paredes ou outros elementos materiais, e nada de seu conteúdo litúrgico. Festas cristãs que parecem ter alguma relação com anteriores pagãs - como a do Nascimento de Cristo e a festa do Sol - não são continuações destas, mas substituições, para fazê-las cair no esquecimento.

1.2 Bem diferente é sua posição frente ao judaísmo. Aceitou, em principio, a idéia sobre Deus e a doutrina bíblica do Antigo Testamento, participando durante algum tempo das práticas do culto, tanto no templo em Jerusalém como nas sinagogas nos outros lugares.
A grande divergência seria desde o inicio a aceitação ou não de Jesus Cristo como o Messias prometido e, em seguida, a propagação de sua doutrina, o Novo Testamento, como norma religiosa plenamente autorizada pelo caráter divino de Jesus, filho de Deus. Com isso é suavizado o conceito de Deus-Pai, toma posição central a doutrina trinitária, começa a prática dos sacramentos instituídos por Cristo e inicia-se um culto novo sobre bases completamente novas, desenvolvendo-se pouco a pouco sua estrutura e fixação.

1.3 Dissemos que os cristãos continuavam, durante algum tempo, a participar do culto judaico. Mas também é verdade que cedo surgiram diferenças, como na decisão de afastar-se da lei cerimonial, principalmente na exigência da circuncisão.
Quanto ao culto, não nos esqueçamos de que o próprio Cristo predisse a era nova de um culto diferente e universal, no diálogo com a Samaritana (Jo 4, 21), "chegará a hora em que não adorareis o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém".
O Antigo Testamento só admitia um único lugar no mundo para o culto pleno no "Templo", com sacrifícios, altar e aparato concomitante. Fora de Jerusalém só havia - e há até hoje para os judeus - "sinagogas": lugares de reuniões, destinadas a leituras, ensinamento, orações e cantos, sem sacrifícios propriamente ditos. O culto sacrifical praticado na Samaria era - e é - contestado como irregular.
lntervem então Cristo e declara: não haverá disputa entre Jerusalém e Samaria, porque a culto será prestado legitimamente em toda parte.
A ordem final na instituição da Eucaristia é: "fazei isto em memória de mim" (Lc22,19) - sem limites, sem restrições: onde cristãos se reúnem para a fração do pão, a comunhão, a oração litúrgica, realiza-se um culto pleno. É de extrema importância para a arquitetura sacra esta posição básica, fundamental.
Mesmo depois de separar-se definitivamente do Judaísmo, o Cristianismo nascente, sem status jurídico, não reconhecido e até hostilizado, periodicamente perseguido, não pensou, e não podia pensar, em erigir templos.
Reuniram-se os cristãos entre si para cumprir o preceito de Cristo, dado na "última Ceia", ou com não-cristãos, interessados na nova religião e candidatos a abraçá-la. Reuniram-se primeiro em casas particulares.

2.1 Escreve S. Paulo em Rom16,5: "Saudai a Prisca e Aquila... saudai também a comunidade que se congrega em casa deles".
Ou ainda em 1 Cor16,19: "As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor Àquila e Prisca, juntamente com a comunidade que se reúne em sua casa".

2.2 A "casa" do mundo romano da antigüidade podia ser a "insula" (ilha): uma casa de cômodos, habitação coletiva, como pode ser vista nas escavações de Óstia. Num apartamento desta "insula", pertencente a um cristão, fazia-se a reunião, o culto.

2.3 As classes de padrão de vida mais elevado viviam na cidade em "domus" (casa) ou no campo em "villa" (casa de campo). É pequena a diferença arquitetônica da casa propriamente dita entre estes dois tipos.
A disposição da Casa Romana explica duas facetas da liturgia católica renovada no Concilio Vaticano II: a diferenciação entre "liturgia da palavra" e "liturgia sacrifical" e a posição do celebrante "face ao povo" ("versus populum"). Três peças da casa foram usadas nas reuniões: o "Tablinium", o "Peristilo" e o "Triclinium". O "Tablinio" era uma espécie de santuário familiar, doméstico, onde eram cultuadas antes as divindades protetoras do lar. Afastados os ídolos pagãos com as novas idéias religiosas, ficou, contudo, o respeito pelo ambiente, e nele se colocava o celebrante, o sacerdote, o apóstolo de Cristo, dirigindo-se à assembléia, acomodada no agradável e espaçoso páteo interno, o "Peristilo", semelhante aos claustros de nossos conventos.

CASA ROMANA
1. Átrio
2. Tablínio
3. Peristilo
4. Triclínio





Pregação, ensinamento, oração e canto inicial, enfim, a primeira parte da Missa católica se realizava aqui. Depois dirigiam-se todos à sala de jantar, ao refeitório da casa, o "Triclinium", para o "culto sacrifical", repetição (inicialmente bem simples) da "última Ceia. Nas escavações de Pompéia ou de Óstia, perto de Nápoles e de Roma, podem ser vistas casas romanas. deste tipo.
Alguns cristãos como S. Clemente doaram suas casas à Comunidade cristã ficando ela para uso exclusivamente litúrgico, religioso.

2.4 Quanto às Catacumbas, é mister corrigir um acento romântico, devido ao romance ou cinema: não foram construídas pelos cristãos para servir de refúgio, de esconderijo. Já existiam como um tipo de cemitério, no mundo pagão. Os cristãos se reuniram nelas, porque durante muito tempo foram respeitadas como locais inatingíveis à ação policial.
Contudo, contribuiu muito para a evolução litúrgica e artística a freqüência às catacumbas: do compreensível destaque que se deu ás sepulturas dos "mártires" (testemunhas) da fé, surgiram costumes e leis a respeito do altar e da veneração dos Santos em geral. Inscrições, pinturas, símbolos e outras decorações são preciosas testemunhas da identidade entre a fé de nossos dias e daqueles tempos, entre a fé que nós professamos e a daqueles que a beberam na fonte.
É sempre comovedora uma visita às catacumbas, principalmente de Roma (pois existem também em outras cidades, em outros países), com seus corredores, sepulturas, salas de reuniões, cátedras episcopais retalhadas do tufo, "memórias" dos mártires.



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Fonte: Separata de Liturgia e Vida – 1976
Por Mons. Guilherme Schubert
Presidente da Comissão Arquidiocesana de Arte Sacra do Rio de Janeiro

domingo, 24 de junho de 2007

A EVOLUÇÃO DA MORADA DE DEUS

Para iniciarmos nossas reflexões sobre Espaço Litúrgico convêm entendermos como o Senhor foi aos poucos se revelando presente na vida humana.


1. DEUS CRIADOR ESTÁ PRESENTE NA CRIAÇÃO:
“Com efeito, o Espírito do Senhor enche o universo, e ele, que tem unidas todas as coisas, ouve toda voz.” Sb. 1,7
“Poderá um homem se ocultar de tal modo que eu o não veja? - oráculo do Senhor. Porventura não enche minha presença o céu e a terra? - oráculo do Senhor.” Jr 23,24


2. A PEDRA MARCA A PRESENÇA DIVINA – BET EL = Casa de Deus
“Jacó, despertando de seu sono, exclamou: “Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!”. E, cheio de pavor, ajuntou: “Quão terrível é este lugar! É nada menos que a casa de Deus; é aqui, a porta do céu.” No dia seguinte, pela manhã, tomou Jacó a pedra: sobre a qual repousara a cabeça e a erigiu em estela, derramando óleo sobre ela. Deu o nome de Betel a este lugar, que antes se chamava Luz. Jacó fez então este voto: “Se Deus for comigo, se ele me guardar durante esta viagem que empreendi, e me der pão para comer e roupa para vestir, e me fizer voltar em paz casa paterna, então o Senhor será o meu Deus. Esta pedra da qual fiz uma estela será uma casa de Deus, e pagarei o dízimo de tudo o que me derdes.” Gn 28, 16-22.

3. O SENHOR SE MANIFESTA NA MONTANHA E PERMANECE COM O POVO ELEITO NA ARCA DA ALIANÇA.
“Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Um dia em que conduzira o rebanho para além do deserto, chegou até a montanha de Deus, Horeb. O anjo do Senhor apareceu-lhe numa chama (que saía) do meio a uma sarça. Moisés olhava: a sarça ardia, mas não se consumia.” Ex. 3, 1-2

“Colocarás a tampa sobre a arca e porás dentro da arca o testemunho que eu te der. Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, que te darei todas as minhas ordens para os israelitas.” Ex 25, 22

4. DEUS CAMINHA DE TENDA EM TENDA DESDE O DESERTO ATÉ O REI DAVI
“O povo dobrou suas tendas e dispôs-se a passar o Jordão, tendo diante de si os sacerdotes que marchavam na frente do povo levando a arca.” Js 3,14

5. O REI SALOMÃO CONSTRÓI UM TEMPLO DE PEDRA PARA A ARCA DA ALIANÇA
“O templo que o rei Salomão edificou ao Senhor tinha sessenta côvados de comprimento, vinte de largura e trinta de altura.” 1Rs. 6,2
“Os sacerdotes levaram a arca da aliança do Senhor para seu lugar, no santuário do templo, no Santo dos Santos, debaixo das asas dos querubins. Pois os querubins estendiam as suas asas sobre o lugar da arca, e cobriam por cima a arca e os seus varais... Na arca só havia as duas tábuas de pedra que Moisés ali depusera no monte Horeb, quando o Senhor fez aliança com os israelitas, depois que saíram da terra do Egito. Quando os sacerdotes saíram do lugar santo, a nuvem encheu o templo do Senhor”. 1Rs 8, 6-10

6. A CIDADE DE JERUSALÉM SE TORNA O “CENTRO DO MUNDO” MORADA DE DEUS
“Porque o Senhor escolheu Sião, ele a preferiu para sua morada. É aqui para sempre o lugar de meu repouso, é aqui que habitarei porque o escolhi.” Sl 131, 13-14

7. JESUS É O TEMPLO DE DEUS
“Respondeu-lhes Jesus: Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em três dias. Os judeus replicaram: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu hás de levantá-lo em três dias?! Mas ele falava do templo do seu corpo.” Jo 2, 19-21

8. O CRISTÃO É A MORADA DE DEUS
“Não sabeis que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” 1 Cor 3,16
“Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?” 1 Cor 6,19

9. A ASSEMBLÉIA CRISTÃ, O CORPO MÍSTICO, ISTO É A IGREJA, É O LUGAR DA PRESENÇA DE DEUS
“Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” Mt 18,20
“E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” Mt 16,18
“Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão.” 1 Cor 10,17
“Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros.” 1 Cor 17, 27.

Portanto, o fiel batizado é o Templo de Deus e o espaço cristão é a CASA DA IGREJA, a “Nova Jerusalém”, o lugar do Apocalipse Hodierno, da Revelação.
“Vi, então, um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra desapareceram e o mar já não existia. Eu vi descer do céu, de junto de Deus, a Cidade Santa, a nova Jerusalém, como uma esposa ornada para o esposo. Ao mesmo tempo, ouvi do trono uma grande voz que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens. Habitará com eles e serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles.” Ap. 21, 1-3

Escreva aqui suas impressões e tire suas dúvidas sobre o assunto apresentado.
PAZ & BEM!

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Arte e Espaços Litúrgicos

Iniciemos nossos trabalhos com um texto que observa a Arquitetura , a Arte e a Liturgia 40 anos após o Concílio Vaticano II.
Deixe aqui seus comentários, dúvidas e experiências vividas em sua comunidade. Participe!
PAZ & BEM!
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Os elementos da celebração e a adequação solicitada pelo Concílio, depois de 40 anos do S.C.

A reforma inacabada
Já se passaram muitos anos desde a publicação dos decretos conciliares, o conjunto dos quais deveria ter aperfeiçoado a proposta que havia sido veiculada pela grande reforma conciliar e oferecer motivações para facilitar a purificação da mentalidade religiosa do povo cristão, sobre a qual, o tempo havia lançado escórias de uma espiritualidade não sempre em sintonia com a espiritualidade litúrgica da Igreja (conf. Regno - Att. 4, 2002, 124).De fato, nos anos pós-conciliares o termo liturgia aparece na boca de todos e em quase todos os artigos de caráter religioso. Todas as mudanças efetuadas nas estruturas das Igrejas, também as mais extravagantes, foram justificadas pela exigência das adaptações litúrgicas. Por vezes, isso acarretou conseqüências terríveis com relação ao patrimônio artístico da igreja.

Uma adequação funcional
O problema de fundo é que não estava bem claro, para todos, o que se entendia por liturgia e reforma litúrgica. Com efeito, depois de tantos anos de fixismos rituais não foi fácil descobrir: de uma parte, existiam os que consideravam as mudanças como um ato de destruição da religião; por outro lado os que achavam que toda mudança e novidade constituía uma reforma e um progresso.Mas, querer mudar uma maneira habitual de proceder bem como a imagem das estruturas e sua colocação, sem ter feito uma prévia apresentação das modificações e sem ter preparado uma nova mentalidade foi uma pura ilusão.Hoje é claro que de fato, no contexto celebrativo dos nossos dias, mudou o aspecto exterior das coisas mas a mentalidade permaneceu a mesma, e teve grande peso a falta de consideração com relação à importância do SINAL sobre o qual se apoia toda a celebração litúrgica.Iniciando pela Encarnação, Cristo expressa a sua vontade salvífica através da materialidade dos sinais e a mensagem implícita nos mesmos. A falta de conhecimento do seu significado autêntico faz com que se torne imprescindível realizá-los na mesma perspectiva na qual Cristo os escolheu e sucessivamente os transformou, esquecendo-nos das finalidades sobrenaturais.Infelizmente no passado a devoção sacralizou os gestos, o mobiliário e objetos litúrgicos, jogando sobre o fiel o dever da veneração mais que a compreensão; desta forma a ação que demandava sinais não traduzia a autenticidade da iconografia que lhe era própria e muito menos a mensagem iconográfica implícita. Portanto, tornava-se difícil entrar profundamente no mistério que se celebrava. É necessário, antes de tudo, descobrir o valor originário, natural e ao mesmo tempo fortemente simbólico dos sinais litúrgicos cristãos, para dar início a autêntica reforma celebrativa.Jesus, instituindo os sacramentos, atuou num preciso quadro iconográfico: escolheu, por razões óbvias, algumas realidades naturais porque trazem em si mesmas um significado análogo ao que Ele queria que se realizasse no plano sobrenatural.Muito eloqüente é o exemplo que nos vem da instituição da Eucaristia. Jesus tomou o pão e o vinho, dois elementos fundamentais para a alimentação humana, fruto não só da terra, mas também "do trabalho do homem" portanto realidades que provêm da natureza e depois são elaboradas pela fadiga humana. Ele os tomou e os deu aos seus apóstolos para que comessem e bebessem. Os ofereceu num contexto bem preciso: o banquete, realidade carregada de sentimentos que caracterizam as relações familiares e de amizade; num banquete que não foi ocasional nem habitual, mas ritual e solene; na ocasião da celebração profética da antiga Pasqua, numa sala preparada para a festa: "Desejei ardentemente comer esta páscoa com vocês" (Lc. 22,15).Jesus se serviu iconograficamente de todas essas realidades por causa do conteúdo iconológico próprio, não negando, mas sublimando a sua mensagem natural. É através do mistério da última ceia que ele passou o sentido da doação do seu corpo e do seu sangue, doação que sacramentalmente transforma a natureza mesma daquele pão e vinho colocados sobre o altar. Por conseqüência a celebração Eucarística, lida na pregnância do sinal, mais que a "presença real" de Cristo visa sublinhar a grandeza do dom que é o seu corpo e sangue redentor: "Tomai e comei, isto é o meu corpo... tomai e bebei, isto é o meu sangue" (conf Mt. 26,26-27).Esta referência pode servir de exemplo para compreender melhor como, para realizar uma verdadeira reforma litúrgica, faz-se necessário esclarecer a identidade dos elementos celebrativos, buscando a verdade ofuscada ou adaptada a diversas situações históricas. Somente isso nos permitirá realizar de forma autêntica os sinais, através dos quais, diz a definição conciliar da liturgia, "realiza em modo próprio a cada um a santificação do homem; nela o corpo místico de Jesus Cristo, cabeça e membros, presta a Deus o culto público integral." (Sacrosanctum C. nº7 EV 1/11). Esta significação, se realizada pela pessoa que acredita e ama, não pode ser feita senão de forma sublime, isto é, artística, no gesto e na ação, seja através das imagens e estruturas.É importante também o convite geral da constituição conciliar sobre a liturgia S.C. no nº21, que pede para rever a iconografia dos pólos celebrativos e restituir-lhes a própria identidade, de forma que eles possam expressar a mensagem litúrgica implícita e conduzir os fiéis a entrar em cheio na celebração. Precisamos ter presente que, sendo a celebração litúrgica um rito, o seu desenvolvimento, assim como os elementos que o envolvem, são carregados de significados, que serão perceptíveis em profundidade somente pelos que foram iniciados.Todos os elementos que compõem o contexto celebrativo estão envolvidos pelo rito, e dele recebem uma carga semântica muito forte; possuem um quadro iconográfico, bem preciso que às vezes precisa vir à tona. É antes de tudo a própria celebração e o contexto no qual ela se dá que "escreve" "marca" a imagem do mistério que se realiza no lugar do culto.

Arquitetura vazia de símbolo
Na liturgia, a arquitetura e a iconografia estão profundamente unidas. Uma contém materialmente a celebração, a outra é a sua expressão.A arte pictórica e escultórea concorrem na explicitação e na comunicação da mensagem própria da ação que se realiza.Infelizmente, como já acenamos no começo, a reação pós-conciliar ao sufocamento que o falso simbolismo produzia, ao decorativismo que tomou conta nos séculos passados das estruturas litúrgicas, levou-nos a um despojamento que abriu mão também do simbolismo autêntico, de modo que não se teve em conta o fato de que em cada estrutura, no contexto litúrgico, existe uma dupla função: aquela prática, em relação com a ação material que a envolve e a simbólica, expressa pela celebração do mistério entendido como lugar da ação.A iconografia é dúplice: aquela inerente e a justaposta. A primeira se expressa na própria celebração e se compõe no contexto de maneira simbólica como expressão do mistério que é celebrado, seja denotando o ato na sua execução material, seja conotando as estruturas que o envolvem. É esta uma iconografia de tipo dinâmico, da qual, após a oração, permanece somente o contexto material e a sua força evocativa.Os elementos constitutivos desse contexto, muitas vezes são enriquecidos pelas contribuições artísticas além das iconográficas, e dão lugar a uma nova iconografia capaz de favorecer uma explicitação iconológica intrínseca e portanto uma maior compreensão dela. Esta iconografia importante, chamada decoração é do tipo estático. Sobrepondo-se à iconografia estrutural ou inerente, algumas vezes não a esclarece e desenvolve mas a sufoca e a torna equivocada, desviando o seu significado com imagens não pertinentes. Exemplo eloqüente é o que aconteceu com a estrutura do altar nos séculos passados.A estrutura arquitetônica sempre teve grande importância no contexto litúrgico. Ela também é iconografia, pois compõe de forma articulada os elementos que envolvem a celebração dos santos mistérios, ricos de sua relativa iconologia. Além disso, uma grande contribuição pode vir da iconografia realizada para o lugar litúrgico. Ela encontra a expressão que lhe é implícita no programa iconográfico, mistagógico, particularmente presente nos lugares de culto dos primeiros séculos cristãos. Ela se propõe, antes de tudo, atrair a atenção dos fiéis para o que está sendo celebrado e inseri-los ativamente neste mistério. Este conjunto iconográfico faz memória das profecias ou das realidades fundantes do mistério litúrgico; torna visível a realidade que ritualmente se celebra e as presenças invisíveis que ele envolve. Conota as realidades intrínsecas à celebração, sublinha-se o simbolismo e a função icônica. Infelizmente com o tempo perdeu-se este tipo de programa. Depois dele ter assumido uma função catequética, depois narrativa, fracionou-se, concentrando-se em sujeitos unitários e atribuindo-lhes não mais a função de meios, mas fins, isto é, transformando-os de simples elementos que acompanhavam a celebração do mistério em objetos de devoção. Isto aconteceu com toda a iconografia das imagens e pinturas dos santos nos últimos séculos. Também as estruturas arquitetônicas e o mobiliário foram alterados na sua imagem e consequentemente acabaram por sublinhar aspectos que não respondem à iconologia do sinal litúrgico celebrado. Para que aconteça de fato uma verdadeira reforma, é necessário rever a iconografia própria do espaço e do mobiliário.

A igreja é para a assembléia
Começando pelo espaço litúrgico que acolhe a celebração, devemos sublinhar que o termo "igreja" deriva da reunião das pessoas que nela acontece. A sua função primordial, essencial, é acolher a assembléia que se propõe realizar o convite de Jesus: "Fazei isto em memória de mim" (Lc 22, 19); (1 Cor 11, 24). Como afirma Jesus: "Onde dois ou três estiverem reunidos no meu nome, lá estou no meio deles" (Mt 18, 20).A presença do Cristo na Igreja é antes de tudo conseqüência da reunião e possui caráter sacerdotal, isto é, de mediação entre as pessoas e Deus Pai. A dedicação deste lugar a Deus é um ato diferente, não necessariamente em conseqüência do seu uso específico. As pessoas podem reservar convenientemente e de forma exclusiva para Deus e o seu culto, um lugar, e também lhes consagrar qualquer espaço. Esta destinação exclusiva a Deus, pode também acontecer em forma de oferta no sentido de ofertar-lhe uma casa; neste caso a igreja é a "domus Dei" ou basílica. Nesta ótica, a presença das espécies Eucarísticas guardadas no tabernáculo (pequena casa) sublinham o caráter devocional, distinto da celebração litúrgica. A instrução sobre o culto eucarístico no nº49 diz a este respeito: "Não será inútil lembrar que a primeira finalidade da conservação das sagradas espécies fora da missa é para a administração do viático; secundariamente para a distribuição da eucaristia fora da missa e para a adoração do Senhor Jesus presente nas espécies". Por isso, a reserva tem que ser colocada fora do altar. Convém que na igreja exista um lugar distinto, propriamente criado e adaptado onde o fiel possa permanecer em oração, encontrar alívio e tranqüilidade espiritual, acolhendo o convite de Jesus: "Vinde a mim, todos vós, que estais cansados, afadigados e oprimidos e eu vos restaurarei" (Mt 11,28).Esta verdade nos é garantida pelo infinito gesto de amor de Jesus que chegou até o dom do seu corpo e sangue, disponibilizando-os para o nosso alimento espiritual.A autêntica tomada de consciência da natureza própria do lugar do culto cristão pode ser favorecida através de uma oportuna iconografia ou decoração, que com a arte figurativa ou abstrata faça reviver os momentos e os sentimentos transmitidos pela Palavra de Deus e pelos sinais salvíficos realizados por Cristo.Na Igreja, a reunião dos fiéis a partir do convite de Jesus, acontece para testemunhar-lhe o nosso amor, para escutar a sua Palavra, para proclamar o seu louvor e participar do banquete por Ele preparado; tudo isto comporta a presença de algumas estruturas, que são: o altar, o ambão a pia batismal e a cadeira. Para que haja participação ativa é necessário compreender a iconologia própria dessas estruturas, que geram um espaço específico.
Texto de Vicenzo Gatti
(il regno – atualità – 2/2003)
Tradução livre de Ir. Laide Sonda
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