domingo, 8 de julho de 2007

A Influência da Liturgia na Arquitetura Cristã

(Foto da Basílica de Santa Sofia em Istambul, antiga Constantinopla)




2ª PARTE
2.5 Com a liberdade religiosa, proclamada em 313 pelo Edito de Milão do Imperador Constantino, e a proteção do mesmo, os cristãos se reuniram em locais públicos, crescendo também muito o número de adeptos.
Por isso ocuparam primeiro edifícios públicos já existentes, que se prestaram à realização do culto, principalmente as "Basílicas" que chegaram a dar o nome ao "estilo Basilical". "Basílica", do grego, significa: edifício real. Era o Tribunal de Justiça, local da jurisprudência. Amplas, dignas, influíram com sua disposição para a arquitetura sacra e orientaram a renovação litúrgica atual em vários pontos. Vejamos: no centro da "abside" a cadeira do PRETOR que julga os casos. Ao seu lado os juízes assistentes, pois ele raramente era jurista, mas político, administrador. Em frente dele um pequeno altar em forma dum bloco decorado, no qual se oferecia incenso a Minerva, deusa da justiça (como hoje temos o crucifixo nas salas do juri para lembrar aos juizes a responsabilidade diante de Deus, eterno Juiz). Dentro do recinto do público dois ambões, espécie de tribunas, ligeiramente elevadas, para que os oradores fossem vistos pelo público: um para os depoimentos das testemunhas, outro para a defesa dos advogados.

2.6 E a aplicação na Basílica cristã? E na liturgia renovada atual? No fundo da abside a cátedra do Bispo ou celebrante principal, o sacerdote "que preside". A seu lado os presbíteros assistentes, diáconos, auxiliares. No lugar do altar da Minerva, o altar cristão, em várias formas, às vezes bastante complicadas em seus desníveis como nas Basílicas Romanas (S. Clemente, S.Lourenço por exemplo). Próximos dele, os ambões para o evangelho, a epístola e outras leituras. Acrescentaram à Basílica um bloco a mais na entrada: um pequeno claustro, com o batistério (ou uma fonte) no centro, criando um ambiente de preparação.


BASÍLICA PAGÃ

1. Pretor
2. Juízes assistentes
3. Altar de Minerva
4. Ambões de testemunhas e advogados




BASÍLICA CRISTÃ

1. Bispo
2. Clero
3. Altar
4. Ambões do Ev. e da Epist.
5. Adro
6. Batistério ou fonte

Com esta Basílica cristã, portanto não mais um edifício público já existente, usado para o culto, mas um edifício erigido "ad hoc", completamos o esquema do lugar para oculto da era páleo-cristã:

1 - Última Ceia
2 - Reuniões em casas particulares: "insula" - "villa" - "domus"
3 - Catacumbas
4 - Basílica: edifício público já existente
5 - Basílica cristã: edifício erigido "ad hoc".

Autorizado a exercer publicamente os atos religiosos, o Cristianismo desenvolveu rapidamente sua liturgia para formas mais ricas, estabelecendo a autoridade eclesiástica normas exatas a serem observadas.
Os templos, especialmente erigidos, foram, e são até hoje, construídos para a realização:

3.1.1 do culto: a missa católica ou, conforme a denominação religiosa diferente, outra forma de "'ceia sagrada";
(Levamos neste estudo sempre em consideração também conceitos cristãos não-católicos, porque á matéria em si interessa a todos os cristãos, e tivemos a oportunidade de apresentá-la também numa conferência realizada no Colégio Bennett do Rio de Janeiro, de orientação Metodista)

3.1.2 da pregação: o ensinamento em forma especial, administrado pelo ministro;

3.1.3 de cerimônias marcantes da vida religiosa: batismo, crisma ou confirmação, casamento, funerais, outras comemorações;

3.1.4 participação da Religião na vida pública, ou manifestação pública da vida privada em datas cívicas, jubileus, comemorações de momentos importantes da vida coletiva.
Quem organiza uma cerimônia com presença de autoridades, terá a preocupação de garantir a todos um lugar, e um lugar apropriado à sua posição, não por bajulação, mas em sinal de respeito. Hoje faz-se isso apenas para o momento, pois o Concílio Vaticano II não quer que haja lugares fixos, reservados a alguma elite, dando a impressão de diferença de classes entre os visitantes da igreja.
É verdade que houve no passado camarotes (sic) exclusivos para os reis, lugares exclusivos para a nobreza, o patrono (nobre que mandou construir a igreja e cuidou de sua manutenção, seguindo-o seus descendentes), o juiz, o prefeito. Em S.Augustin, a igreja da Corte de Viena, existem até hoje tais camarotes, um para cada príncipe e princesa, dando a impressão de uma sala de espetáculos. Nas igrejas coloniais encontramos as grades que separavam na nave os recintos reservados às Irmandades (como na Europa as Corporações medievais, os Sindicatos da época) e as tribunas no andar superior, outra forma de camarotes destinados ás senhoras dos Irmãos.
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Fonte: Separata de Liturgia e Vida – 1976
Por Mons. Guilherme Schubert
Presidente da Comissão Arquidiocesana de Arte Sacra do Rio de Janeiro

Um comentário:

Anônimo disse...
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