Segunda parte da carta de Dom Joviano de Lima Júnior,SSS aos participantes do 6º Encontro Nacional de Arte Sacra que se realizou de 25 a 28 de julho em Vitória - ES.
A capacidade simbólica do espaço litúrgico
... tenha-se presente que a finalidade da arquitetura sacra é oferecer à Igreja que celebra os mistérios da fé, especialmente a Eucaristia, o espaço mais idôneo para uma condigna realização da sua ação litúrgica; de fato, a natureza do templo cristão define-se precisamente pela ação litúrgica, a qual implica a reunião dos fiéis (ecclesia), que são as pedras vivas do templo (cf. 1Pd 2,5).
O mesmo princípio vale para toda a arte sacra em geral, especialmente para a pintura e a escultura, devendo a iconografia religiosa ser orientada para a mistagogia sacramental. Um conhecimento profundo das formas que a arte sacra conseguiu produzir, ao longo dos séculos, pode ser de grande ajuda para quem tenha a responsabilidade de chamar arquitetos e artistas para comissionar-lhes obras de arte destinadas à ação litúrgica...”
“Enfim, é necessário que, em tudo quanto tenha a ver com a Eucaristia, haja gosto pela beleza; dever-se-á ter respeito e cuidado,também, pelos paramentos, alfaias, os vasos sagrados, para que interligados de forma orgânica e ordenada, alimentem o enlevo pelo mistério de Deus, manifestem a unidade da fé e reforcem a devoção”[1]
A sacramentalidade da ação litúrgica torna-se mais evidente quando o belo se expressa com toda a sua força. Tomemos como exemplo a visibilidade da fonte batismal.
O batistério, lugar expressivo da unidade de toda a Igreja, deve ter a sua visibilidade garantida no espaço litúrgico. A partir da Conferência de Aparecida, se fala muito em Iniciação Cristã, da qual o Batismo é o primeiro sacramento. Como sabemos o elemento mais ligado ao Batismo é a água. Mas, no rito há também a unção com o óleo dos catecúmenos e com o óleo do Crisma. De um lado, temos na visibilidade do batistério um apelo constante à conversão – ao discipulado e, de outro, o envio missionário. O cristão é chamado a fermentar a sociedade. Daí a tensão em direção ao sacramento da maturidade cristã que é a Crisma. Todo o processo de Iniciação Cristã tem o seu ponto alto na Eucaristia – a mesa do Senhor. No momento em que se coloca em questão a reforma litúrgica do Vaticano II, é preciso ressaltar o altar como símbolo de Cristo, ao redor de quem toda a assembléia celebrante se reúne. Um forte motivo para se garantir a visibilidade do altar.
É preciso haver uma harmonia entre batistério – Fonte Batismal e a Mesa eucarística, sem nos esquecermos da Mesa da Palavra. Aquilo que Romano Gardini fala da obra de arte, vale sobretudo para o espaço litúrgico: “Uma autêntica obra de arte não é, como toda presença percebida imediatamente, um mero fragmento do que se exibe, mas uma totalidade.”[2] Acrescenta que “a unidade do objeto que se capta e da pessoa que o capta tem um poder evocador. Em torno dela se faz presente a totalidade da existência: a totalidade das coisas, a natureza e a totalidade da vida humana, a história, ambas coisas vivas numa só.”[3] É nesta totalidade que o belo se manifesta e o espaço litúrgico se revela como um lugar de relações. O espaço litúrgico não se destina somente à oração pessoal, mas, sobretudo, para uma ação comunitária. Ele precisa ser um enunciado da liturgia que ali é celebrada. Sem querer ensinar arquitetura ao arquiteto, é preciso levar em conta que o espaço litúrgico deve ser sempre pensado como um lugar ocupado por pessoas. Não simplesmente um espaço admirado pela sua harmonia e beleza. Diante de tudo isso, surge uma pergunta: Qual a melhor solução para uma maior visibilidade da fonte batismal? E, para que ao olhar o ambão quem entra no espaço litúrgico possa dizer: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”?
Uma vez garantida a beleza e a visibilidade dos elementos que compõem o espaço litúrgico, caberá à liturgia celebrada, enquanto itinerário de fé e vida, levar as pessoas a passarem do olhar de admiração da beleza da arquitetura à contemplação da beleza do mistério. De certa maneira, o processo de iniciação nunca termina, pois a mistagogia faz com que as pessoas experimentem o que celebram. Ainda uma observação de J. M Canals: “O ser humano expressa a beleza de duas formas: a primeira, quando se inspira na natureza, em algo que está fora de si, e se esforça por reproduzir formas, cores e sons; a outra, quando ele entra dentro de si mesmo, e de seu espírito criador faz brotar a forma que plasma no exterior em obras e atitudes pessoais e transforma a matéria dando-lhe forma, cor e ritmo.”[4]
A Igreja é a casa do povo
O templo, onde a comunidade se reúne para expressar o seu amor a Deus, é a casa do povo. Com suas portas sempre abertas, a domus ecclesiae a todos acolhe. A sua presença na cidade já é um sinal de fraternidade e solidariedade.
Toda a comunidade deve ser envolvida na obra de arte, sobretudo quando se tratar da construção de uma igreja, verdadeiramente a Casa da Igreja, lugar e escola de comunhão dos pobres[5].
Dom Joviano de Lima Júnior, SSS
... tenha-se presente que a finalidade da arquitetura sacra é oferecer à Igreja que celebra os mistérios da fé, especialmente a Eucaristia, o espaço mais idôneo para uma condigna realização da sua ação litúrgica; de fato, a natureza do templo cristão define-se precisamente pela ação litúrgica, a qual implica a reunião dos fiéis (ecclesia), que são as pedras vivas do templo (cf. 1Pd 2,5).
O mesmo princípio vale para toda a arte sacra em geral, especialmente para a pintura e a escultura, devendo a iconografia religiosa ser orientada para a mistagogia sacramental. Um conhecimento profundo das formas que a arte sacra conseguiu produzir, ao longo dos séculos, pode ser de grande ajuda para quem tenha a responsabilidade de chamar arquitetos e artistas para comissionar-lhes obras de arte destinadas à ação litúrgica...”
“Enfim, é necessário que, em tudo quanto tenha a ver com a Eucaristia, haja gosto pela beleza; dever-se-á ter respeito e cuidado,também, pelos paramentos, alfaias, os vasos sagrados, para que interligados de forma orgânica e ordenada, alimentem o enlevo pelo mistério de Deus, manifestem a unidade da fé e reforcem a devoção”[1]
A sacramentalidade da ação litúrgica torna-se mais evidente quando o belo se expressa com toda a sua força. Tomemos como exemplo a visibilidade da fonte batismal.
O batistério, lugar expressivo da unidade de toda a Igreja, deve ter a sua visibilidade garantida no espaço litúrgico. A partir da Conferência de Aparecida, se fala muito em Iniciação Cristã, da qual o Batismo é o primeiro sacramento. Como sabemos o elemento mais ligado ao Batismo é a água. Mas, no rito há também a unção com o óleo dos catecúmenos e com o óleo do Crisma. De um lado, temos na visibilidade do batistério um apelo constante à conversão – ao discipulado e, de outro, o envio missionário. O cristão é chamado a fermentar a sociedade. Daí a tensão em direção ao sacramento da maturidade cristã que é a Crisma. Todo o processo de Iniciação Cristã tem o seu ponto alto na Eucaristia – a mesa do Senhor. No momento em que se coloca em questão a reforma litúrgica do Vaticano II, é preciso ressaltar o altar como símbolo de Cristo, ao redor de quem toda a assembléia celebrante se reúne. Um forte motivo para se garantir a visibilidade do altar.
É preciso haver uma harmonia entre batistério – Fonte Batismal e a Mesa eucarística, sem nos esquecermos da Mesa da Palavra. Aquilo que Romano Gardini fala da obra de arte, vale sobretudo para o espaço litúrgico: “Uma autêntica obra de arte não é, como toda presença percebida imediatamente, um mero fragmento do que se exibe, mas uma totalidade.”[2] Acrescenta que “a unidade do objeto que se capta e da pessoa que o capta tem um poder evocador. Em torno dela se faz presente a totalidade da existência: a totalidade das coisas, a natureza e a totalidade da vida humana, a história, ambas coisas vivas numa só.”[3] É nesta totalidade que o belo se manifesta e o espaço litúrgico se revela como um lugar de relações. O espaço litúrgico não se destina somente à oração pessoal, mas, sobretudo, para uma ação comunitária. Ele precisa ser um enunciado da liturgia que ali é celebrada. Sem querer ensinar arquitetura ao arquiteto, é preciso levar em conta que o espaço litúrgico deve ser sempre pensado como um lugar ocupado por pessoas. Não simplesmente um espaço admirado pela sua harmonia e beleza. Diante de tudo isso, surge uma pergunta: Qual a melhor solução para uma maior visibilidade da fonte batismal? E, para que ao olhar o ambão quem entra no espaço litúrgico possa dizer: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”?
Uma vez garantida a beleza e a visibilidade dos elementos que compõem o espaço litúrgico, caberá à liturgia celebrada, enquanto itinerário de fé e vida, levar as pessoas a passarem do olhar de admiração da beleza da arquitetura à contemplação da beleza do mistério. De certa maneira, o processo de iniciação nunca termina, pois a mistagogia faz com que as pessoas experimentem o que celebram. Ainda uma observação de J. M Canals: “O ser humano expressa a beleza de duas formas: a primeira, quando se inspira na natureza, em algo que está fora de si, e se esforça por reproduzir formas, cores e sons; a outra, quando ele entra dentro de si mesmo, e de seu espírito criador faz brotar a forma que plasma no exterior em obras e atitudes pessoais e transforma a matéria dando-lhe forma, cor e ritmo.”[4]
A Igreja é a casa do povo
O templo, onde a comunidade se reúne para expressar o seu amor a Deus, é a casa do povo. Com suas portas sempre abertas, a domus ecclesiae a todos acolhe. A sua presença na cidade já é um sinal de fraternidade e solidariedade.
Toda a comunidade deve ser envolvida na obra de arte, sobretudo quando se tratar da construção de uma igreja, verdadeiramente a Casa da Igreja, lugar e escola de comunhão dos pobres[5].
Dom Joviano de Lima Júnior, SSS
Nenhum comentário:
Postar um comentário