sábado, 11 de agosto de 2007

6º Encontro Nacional de Arte Sacra


Abaixo a carta de Dom Joviano de Lima Júnior,SSS aos participantes do 6º Encontro Nacional de Arte Sacra que se realizou de 25 a 28 de julho em Vitória - ES.
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O Esplendor e a Beleza na Ação Litúrgica

Com estas palavras do Papa Bento XVI gostaria de abrir este encontro:

“A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De fato, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade (veritatis splendor). Na liturgia brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a si e chama à comunhão.” (Sacram. Caritatis,35).

“A profunda ligação entre a beleza e a liturgia deve levar-nos a considerar atentamente todas as expressões artísticas colocadas a serviço da celebração. Um componente importante da arte sacra é, sem dúvida, a arquitetura das igrejas, nas quais há de sobressair a coerência entre os elementos próprios do presbitério: altar, crucifixo, sacrário, ambão, cadeira.” (Sacr. Caritatis41)

“A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no mistério pascal. A beleza da liturgia pertence a esse mistério: é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra.”[1]


O valor teológico e litúrgico da beleza

A espiritualidade foi o foco do último encontro, na cidade d Rio de Janeiro. A espiritualidade, como a obra de arte é uma experiência a ser transmitida. Todo artista transmite o que ele toca com as mãos, o que se encontra no u coração. Há,na 1 Jo 1,1-3, um texto iluminador:

O que desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam da Palavra da Vida – da vida que se manifestou, que nos vimos e testemunhamos, vida eterna que a vós anunciamos, que estava junto do Pai e que se tornou visível para nós - ,isso que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que tenhais comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o Filho Jesus Cristo.

Hoje, afirma-se que o lugar autêntico da teologia não é a sala de aula mas a festa. A justificativa está na história da composição e no uso dos livros da Sagrada Escritura que não foram redigidos como um texto qualquer. Mas foram redigidos para darem sentido à existência de um povo. Ser a sua memória. E projetar o seu futuro.

A originalidade da Sagrada Escritura reside no fato de ter sido escrita para ser proclamada, narrada e cantada. A Palavra de Deus, em Israel, faz parte da constituição do povo e do culto da nação, juntamente com a promessa da terra. Ela está voltada para o louvor da presença amorosa de Deus e ao reconhecimento da sua ação benéfica no meio do povo. O povo é de Deus e Deus é o Deus do seu povo!

O Novo Testamento valoriza a festa, enquanto ela é decorrência de um encontro, de uma experiência com o Ressuscitado. Isso se torna mais evidente na liturgia celebrada[2]. E dando por adquirido que a melhor linguagem para falarmos de Deus seja a beleza, a liturgia só poderá cumprir sua função se for bela. Parafraseando, K. Rahner[3], eu diria que a liturgia é bela ou não é liturgia autentica! A comunicação – a linguagem da liturgia – torna-se inteligível ao mundo de hoje se estiver impregnada de beleza.

A beleza na liturgia faz com que a presença de Deus seja transparente aos nossos contemporâneos. Segundo J. Canals[4] “a beleza é uma dimensão interior que se abre à exterior e se encarna em formas diversas. Na cultura atual, dominada pela técnica e pelo utilitarismo, urge resgatar a beleza e a gratuidade. A beleza, para um cristão, é uma exigência interna da fé que o leva à Beleza do Deus que é Verdade e Amor. Quanto à Liturgia, não deve ser condenada à banalidade, mas é necessário fazer com que ela frutifique em beleza e em santidade.” No número 35 da S. Caritatis, Bento XVI ; “A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza.” O grande ícone desta beleza, que está ligada à Trindade, será sempre a Páscoa de Cristo.

A beleza, além de abrir-nos um horizonte sem fronteiras, é uma via privilegiada para a compreensão do ato de fé. “Concluindo, a beleza não é um fator decorativo da ação litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isso nos há de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à ação litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza.”[5]

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autor: Dom Joviano de Lima Júnior,SSS

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