domingo, 15 de julho de 2007

A Influência da Liturgia na Arquitetura Cristã

Ícone Divina Liturgia
(Final)

A mentalidade moderna é outra, é democrática e não aceita privilégio de çastas (pelo menos o afirma). Mas é preciso fazer-se uma correção histórica: se a Igreja de um lado destacou os governantes (prestando um tributo de respeito perfeitamente justificável, criando um clima de mútua colaboração até hoje desejável, desde que não haja bajulação ou concessões indevidas), de outro lado prestigiou com estas medidas um grupo da classe média, não-nobre, nas Irmandades e Corporações. E sabemos que com isso ganhou a burguesia (hoje um termo que indica "classe rica", mas naquela época uma classe, se bem que respeitável, contudo muito distanciada da classe verdadeiramente dominadora da nobreza) prestígio e auto-confiança.
Por outro lado havia assim chance para que uma pessoa de origem humilde subisse na sociedade. Até as pessoas de cor viram-se assim respeitadas pela Igreja - ato corajoso para as circunstâncias dessas épocas passadas. É por isso, além do sincero entusiasmo pela fé, misturando menos do que hoje cristianismo e fetichismo, que os pretos e mulatos capricharam tanto na construção de suas igrejas, na aquisição de suas imagens, de seus Santos, na organização de suas Irmandades com Juiz, Provedor, cargos de direção, vestes solenes, tochas, alfaias iguais às demais Irmandades, suas festas, suas procissões e demais solenidades. É um aspecto de alcance sociológico importantíssimo, e uma contribuição da Igreja para o entendimento entre as classes sociais, pois pouco a pouco passaram as pessoas de cor a serem aceitas também em Irmandades, antes reservadas somente aos brancos. Foi uma contribuição justa, corajosa e ao mesmo tempo prudente, conseguindo de modo pacífico, o que mais tarde seria pleiteado em lutas sangrentas no campo civil;

3.1.5 e, finalmente, á recitação do oficio: oração em comum feita por monges, cônegos e membros de outras comunidades. Requer, em geral um tipo especial de bancos e assentos, as "estalas", o "Côro".
O projetista, o arquiteto deve providenciar para que haja espaço suficiente para a realização desses atos; para que as cerimônias possam desenvolver-se sem embaraço por todos que nelas participam direta ou indiretamente (chegada, saída, movimento em redor do altar, da pia batismal), para que recebam o merecido destaque os locais ou peças litúrgicas (altar, ambão, batistério, presbitério, coral) e para que o ambiente todo tenha um caráter próprio, sacro, propicio à função religiosa, à meditação, o recolhimento.
Influirá muito em tudo isso a idéia religiosa específica, mesmo dentro do Cristianismo.

3.2.1 É muito diferente, se se realiza uma Missa ou outra forma de Ceia Sagrada, o que requer um altar; ou se há somente uma reunião com pregação, canto e oração, sem altar.

3.2.2 Exerce enorme influência sobre arquiteto e decorador a concepção católica da Eucaristia: presença continuada de Deus no pão consagrado, mesmo terminada a Missa. Com ela atravessa a história da Arte Sacra o sacrário: desde a "pomba Eucarística", suspensa do baldaquino do altar (ver no Museu de Salzburg e noutros), pelo "Sakramentshaeuschen" ("Casa do Sacramento"); um sacrário embutido na parede, ou colocado numa coluna isolada, uma stela; até a posição central no altar pré-conciliar, fazendo dele mais um trono do Santíssimo, grandioso, volumoso com seu retábulo, do que – o que é sua função própria - o local do sacrifício da missa; e até a posição atual da liturgia: altar como centro de atenção; sacrário separado dele, mas expressando dignamente a fé na presença eucarística.

3.2.3 Há muitas maneiras de demonstrar o respeito: levantar-se, inclinar-se, tirar o chapéu e outros procedimentos. Mas praticamente influem as tradições católicas e protestantes no desenho dos bancos de igreja: para católicos são para sentar e ajoelhar; para protestantes só para sentar. (Para judeus só para sentar, mas dispondo de uma espaçosa gaveta de guardar livros, chale e outros objetos). '

3.2.4 Não a doutrina, mas certas idéias mudaram entre os católicos a respeito da colocação da pia batismal. Em tempos passados, desde as mais remotas épocas, pensaram assim: as crianças, ou melhor, as pessoas, a serem batizadas, crianças ou adultos, são pagãos, e por isso não entram na igreja. Para entrar, são primeiro batizados. Por isso foi o batistério colocado ou fora da igreja (Latrão em Roma, por exemplo), fora do local do culto (casa de Dura-Europos, séc. lll), ou na igreja, mas logo à entrada.
Hoje há preocupação de fazer participar a assembléia dos fiéis em ato tão importante para a vida cristã; e, por isso, é colocada a pia batismal dentro da nave, na proximidade do altar, á vista de todos. A preocupação pastoral venceu o espírito de "volta ás fontes", geralmente seguido na reforma litúrgica do Concilio Vaticano II. Com isso aproximam-se a prática católica e protestante sobre o local da pia batismal.
Os batistas têm de cuidar ainda de outra forma deste assunto. Pois para eles é obrigatório o batismo por submersão (os católicos são livres para usar submersão, infusão ou aspersão). Isso requer uma piscina, com degraus para descer e subir é uma espécie de “dique seco" para o ministro que acompanha o batizando, descendo e subindo, sem se molhar.

3.2.5 Grande influência sobre arquitetura e decoração teve o culto dos Santos da Igreja católica e, parcialmente, da Igreja anglicana. Já falamos das "memórias" das Catacumbas, dos altares das Basílicas. Segue-se historicamente o desenvolvimento do retábulo com mais de uma imagem ou pintura, os altares laterais, até em capelas próprias, ás vezes uma série destas, em honra de outros Santos; fora da colocação de imagens e pinturas em outras partes nas paredes, na fachada, no adro.
Continua na Igreja católica o culto dos Santos. Nele o Concilio Vaticano II nada mudou. Mas sugere-se maior simplicidade, evitando um número excessivo de imagens, o que fica até anti-estético, coisa que o barroco colonial brasileiro com seu profundo senso de proporção soube evitar, apesar de toda a riqueza de expressão desenvolvida.
E, o que é mais importante: insiste-se na reforma atual que a disposição da cruz, do Cristo crucificado, de outras imagens de Cristo, de Nossa Senhora, dos outros Santos, exprimam visualmente o que sempre foi assunto de fé: Deus acima de tudo; Cristo antes de tudo.

4. Outro aspecto a ser considerado no exame do binômio: liturgia - arquitetura é o elemento humano, tanto do arquiteto criador, como do utilitário, do freqüentador da igreja.
Pois, se é verdade que o culto consiste numa homenagem prestada pelo homem, sozinho ou em grupo, a Deus - também é verdade que este homem que presta a homenagem, não é o mesmo de uma época para outra.

4.1 Deixando de lado outros sistemas religiosos, e ficando só no Cristianismo, vemos nos templos de diferentes épocas marcas diversas, deixadas por gerações diferentes.
Fonte: Separata de Liturgia e Vida – 1976
Por Mons. Guilherme Schubert
Presidente da Comissão Arquidiocesana de Arte Sacra do Rio de Janeiro

3 comentários:

Maria João disse...

Na próxima sexta-feira, dia 20, realiza-se uma oração de TaiZé pelo Darfur , às 19h45m, na Igreja de S. Nicolau, na Baixa de Lisboa.

Participa e divulga! Se não puderes estar presente, reza na mesma.

bjs em Cristo
Maria João
Fé e Missão (Missionários Combonianos)

Anônimo disse...

Gostei muito deste texto. Tomei a liberdade de incluí-lo no Pastoralis, espero que não se importe.

Um abraço,
Márcia
www.pastoralis.com.br

Anônimo disse...

publicaremos nos dias:
28/07
04/08
11/08
18/08

O material que você disponibiliza aqui é muito bom! Parabéns!

Um abraço,
Márcia
www.pastoralis.com.br